Francisca Edwiges Neves Gonzaga, a Chiquinha Gonzaga, foi compositora, pianista e a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Uma parte de seu passado, porém, foi pouco divulgado ao longos dos anos: as suas raízes negras. O Itaú Cultural, em São Paulo, abre na quarta-feira, 24, a Ocupação Chiquinha Gonzaga, em que mergulha na vida e na obra da compositora e resgata a sua afrodescendência. A exposição é grátis e ficará em cartaz até 23 de maio. É necessário, no entanto, fazer agendamento prévio.
Chiquinha viveu em uma época de transição entre a monarquia e a República e um dos documentos que estarão em exposição na mostra é o “Assentamento de Batismo” de sua mãe, uma mulher parda liberta, filha de uma escrava negra, que se casou com um homem branco. A dificuldade que seus pais tiveram por formarem um casal pouco convencional para os costumes da época ajudou a formatar a personalidade da artista. Chiquinha era abolicionista e também desafiou os costumes impostos ao gênero feminino: foi artista em um ambiente dominado por homens, e, embora tenha se casado, viveu três relacionamentos amorosos diferentes num tempo em que não existia divórcio.
Outra peça simbólica que será exposta é um broche de ouro com pauta musical das primeiras notas da valsa Walkyria, composta por Chiquinha Gonzaga em 1884 para a opereta A Corte na Roça, que marcou a sua estreia como autora de música para teatro. O objeto, hoje pertencente ao acervo do Museu da República, foi oferecido a ela em 1885 por críticos teatrais, em decorrência do sucesso da opereta, e virou adereço habitual da maestrina desde então. Ao todo, serão expostos 120 itens, entre eles, documentos e objetos de época, fotos e a partitura de Ó Abre Alas, a primeira marchinha de Carnaval do país, composta em 1899 para o Cordão Rosa de Ouro.