Em meio a celebrações de seu aniversário de 203 anos, ocorrido oficialmente no último dia 6, o Museu Nacional do Rio de Janeiro, vinculado a UFRJ, acaba de receber uma doação de peças da antiguidade greco-romana. Datadas entre 550 a.C. e 550 d.C, as 27 obras da coleção pertenciam ao diplomata aposentado e escritor gaúcho Fernando Cacciatore de Garcia e passarão a integrar o acervo de longa duração da instituição.
“Quero que a coleção seja um elo da cultura do Brasil com a da Antiguidade Clássica, e que sirva de peça chave para a construção da nossa identidade nacional”, disse Cacciatore em coletiva de imprensa da qual VEJA participou. “Solteiro e sem herdeiros”, o diplomata aposentado optou por doar a coleção, montada entre 1974 e 2004 e estimada em 1 milhão de reais, para restaurar parte do patrimônio perdido no incêndio de 2018. “Afinal, um museu também é o seu acervo”, explica ele, que também nutre uma relação afetiva com a instituição. Contemplando mais de 1.000 anos de história, as peças estão em mármore, cerâmica, metal, terracota e vidro. A mais antiga, de 550 a.C., trata-se de um tijolo arquitetônico que ornamentava um templo na Grécia Oriental, território hoje pertencente à Turquia, em que se vê um cavalo a galope com seu cavaleiro.
Outra joia rara da coleção é uma estatueta em mármore do deus Baco ainda menino, descoberta em escavação em Nápoles, na Itália, em 1835, e pertencente ao Cônsul-Geral da Suíça antes de ser adquirida por Cacciatore, em 2001. “É uma peça digna do Louvre, tamanha a perfeição”, exalta o diplomata.
Embora pequena, a coleção retrata uma impressionante diversidade cronológica, geográfica e estilística – no caso das peças gregas, há representantes dos estilos Arcaico, Clássico e Helenístico. “Um dos maiores desafios atuais da instituição é a recomposição de seus acervos”, diz o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, em comunicado. “A bastante significativa coleção greco-romana vai enriquecer a futura exposição de longa duração do Museu e contribuir com pesquisas científicas na área.” Segundo o diretor durante a coletiva de imprensa, ela virá à público “assim que a pandemia deixar” e deverá ter uma versão virtual em breve.
Em reconstrução desde o incêndio de 2018, o Museu Nacional viu suas obras atrasarem em função da pandemia – mas “o Museu já tem uma baleia!”, adianta Kellner. Em 2021, é esperada a finalização da reforma da Biblioteca Central, uma das mais importantes do país, com 500.000 livros, e dos trabalhos de higienização de proteção dos bens integrados do Paço de São Cristóvão e do Jardim das Princesas. Toda área acadêmica deve ser totalmente reconstruída até dezembro. Também terão início, em agosto deste ano, as obras nas fachadas e coberturas do Bloco 1, o Histórico, que deverão ser entregues em 2022 – em tempo de celebrar o bicentenário da independência do Brasil, em setembro. Segundo a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, se espera que, em 2023, o restante dos blocos seja reestruturado, e, em 2024, que o interior do Palácio seja restaurado. Fica para 2025 a finalização total da reforma.
A empreitada conta com grandes doações de capital público e privado – as mais significativas, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), da Vale e do banco Bradesco, que desembolsaram 50 milhões de reais para a reconstrução do Museu Nacional, cada. “Um povo que não conhece seu passado não consegue mapear o seu futuro”, disse Julio Leite, superintendente do BNDES, em coletiva. A Vale, por sua vez, disse estar “comprometida em devolver o museu para a sociedade brasileira”, com apoio financeiro e de expertise do Instituto Cultural da empresa. “Celebrar os 203 anos do Museu Nacional é celebrar também a ciência, a história natural, a antropologia, a educação”, disse Luiz Eduardo Osorio, Vice-Presidente Executivo da empresa.