Na moda, as patricinhas voltaram
Preparem-se para o retorno das calças de cintura baixa, do terninho xadrez e de um leque de tendências dos anos 1990 e 2000 que chegam agora repaginadas
Para escolher o look do dia, a it girl Cher Horowitz conta com a ajuda de um computador: em um clique, lá está seu conjunto amarelo de terninho estruturado e minissaia xadrez. A cena é do filme As Patricinhas de Beverly Hills, sucesso da década de 90 que representava bem a moda da época nas produções da personagem de Alicia Silverstone. Alegre e colorida, era marcada pelo exagero e a exuberância jovial em roupas chamativas. Corta para os anos 2000. Ícone fashion, Britney Spears causou polêmica ao aparecer na edição de 2001 do American Music Awards combinando o visual all jeans com o namorado Justin Timberlake. A cantora também ditou moda a cada aparição, com suas calças de cintura cada vez mais baixa, fazendo tremer de raiva os ortodoxos da costura. Era um tempo de estilo anárquico, definido pelos choques de tendências, misturas e excessos. O equilíbrio estava fora de questão. E exatamente por isso gerava tanta controvérsia aos olhos dos fashionistas. Na moda Y2K (Year 2000), a ideia era ser autêntico. Afinal, com o bug do milênio ali, pairando como ameaça — na virada de 1999 para 2000, muita gente acreditou que os computadores não entenderiam a mudança de dígitos e haveria pane mundial —, poderia até nem existir o amanhã.
Bem, o amanhã existiu e, mais de vinte anos depois, os figurinos da patricinha Cher Horowitz e da impetuosa Britney Spears estão de volta. Repaginados, claro, eles agora são exibidos pelas musas desses tempos pandêmicos. Modelos como Bella Hadid, Hailey Bieber e Kendall Jenner, as cantoras Billie Eilish, Dua Lipa e a rapper Doja Cat são algumas das mulheres que evocam o estilo das décadas passadas nas roupas e acessórios que usam. Esse ir e vir de tendências não é algo novo, mas é interessante observar como o que vem do passado se manifesta no presente. Em relação às referências dos anos 1990 e 2000, há duas grandes diferenças entre o que foi e no que se transformou. “Em 2021, essas macrotendências carregam um ar de liberdade”, explica a stylist Manu Carvalho. “As pessoas aderem se quiser. Não há mais a imposição de ter que usar porque está na moda.”
E a pandemia, reafirme-se, separa a patricinha de ontem das influenciadoras de hoje. A crise sanitária, que pôs o mundo em quarentena, alavancou preferências como as roupas casuais, esportivas e oversized, como as calças cargo e com bolsos. Simultaneamente, tirou as pessoas das ruas e, consequentemente, reduziu as inspirações de street style. Consolidou, ainda, a influência projetada pelas mídias digitais, em especial a do TikTok. Hoje, são as musas das redes que pautam a moda, gostem ou não os especialistas de estilo que por tantos anos esperavam as grandes casas de costura apresentarem o que homens e mulheres vestiriam na estação seguinte. O caminho se inverteu. Os mais recentes desfiles internacionais levaram às passarelas o que já era sucesso no mundo digital. Chanel colocou calça de cintura baixa e top cropped, Alaïa e Fendi apresentaram legging por baixo do vestido e Dior brilhou com o look terninho e minissaia xadrez à la patricinha de Beverly Hills. Isso só para citar alguns. Questionáveis ou não, looks com ares de 1990 e 2000 permanecerão no closet por mais um tempo. Como diria a música mais famosa de Britney, “Yes, baby, one more time”.
Publicado em VEJA de 1 de setembro de 2021, edição nº 2753