‘Nenhum lugar é seguro’, diz Guga Chacra sobre coronavírus
O comentarista do canal de notícias GloboNews conta por que se emocionou na TV ao falar sobre a pandemia
Como tem sido sua rotina em Nova York na quarentena? Estamos fazendo um rodízio de dias em que os jornalistas vão ao estúdio da Globo, e já tenho trabalhado de casa. As orientações são para sair o mínimo possível, só para ir ao mercado ou passear com o cachorro. Sabemos que o pico da doença em Nova York será em abril e que a cidade terá o cenário mais grave nos Estados Unidos. Por isso todo o cuidado.
Sua imagem emocionado na TV ao falar sobre o coronavírus se espalhou pela internet. O que pensou naquele momento? Que este é um mundo onde nunca imaginei que viveria. Falamos neste ano de guerra na Síria, do conflito com o Irã, mas ninguém imaginou uma pandemia que mudaria nossa vida. Já me emocionei no ar antes. No 11 de Setembro, por exemplo, ou no atentado terrorista que matou um grupo de argentinos em Nova York. Nessas situações, imaginamos amigos, familiares…
Qual a diferença entre cobrir uma guerra e uma pandemia? Guerra não acontece em todo lugar o tempo todo. Existem áreas de segurança. Fui para a Síria diversas vezes. Se me sentisse inseguro, poderia pegar um carro e ir para o Líbano. Em Gaza, eu poderia correr para Israel. Com uma pandemia, não é assim: ela é uma ameaça invisível. Qualquer pessoa pode ter o vírus, estar infectada e contaminar outras pessoas. Quando estourou tudo isso na China, os brasileiros voltaram para o Brasil, onde estariam seguros. Agora, nenhum lugar é seguro e não há perspectiva de a pandemia acabar. É claro que existem cidades com menor incidência, mas há riscos. É pior que uma guerra.
Não é exagero? Não. A Síria está em conflito, mas o resto do mundo continua funcionando. Até na II Guerra Mundial, se você vivesse no interior no Brasil, estaria tranquilo. Esse cenário não existe durante uma pandemia.
Em meio às notícias o tempo todo, como você faz para controlar a ansiedade e manter a sanidade? Depois que saio do ar, eu desligo o computador, o celular, o tablet. Tento assistir a algo mais leve na TV. Antes de dormir, leio um livro que não tenha nada a ver com o assunto. De manhã, faço ginástica, fico com meus filhos e, então, leio as notícias. Também saí de todos os grupos do WhatsApp que não são de jornalistas — mas fiquei no da família, pois desse não dá para sair.
O cabelo bagunçado, sua marca registrada, faz parte dessa rotina? Meu cabelo sempre foi assim, eu jogava polo aquático, saía da piscina com cloro e o deixava natural. Trabalhei muito tempo em jornal impresso, mas na TV causou o choque: até então, nem tinha percebido que meu cabelo era tão rebelde. Acho que o contraste com o terno é o que chama atenção. Mas a Globo nunca quis mexer no meu cabelo. Tenho liberdade total de usá-lo assim.
Publicado em VEJA de 1 de abril de 2020, edição nº 2680