Ao redor do mundo, a pandemia do coronavírus tem colocado inúmeros eventos culturais em suspensão como forma de prevenir aglomerações e novas ondas de contágio. No setor cinematográfico, festivais adotaram alternativas criativas para driblar a crise, como o We Are One: A Global Film Festival – projeto que, desde a última sexta-feira, 29, e até o dia 7 de junho, lança diária e gratuitamente no YouTube produções inéditas, com curadoria de equipes de Cannes, Veneza, Tóquio, entre outras importantes sedes de eventos da sétima arte. A internet parece ser o mais seguro dos terrenos para a área se acomodar: aqui no Brasil, a 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, um dos mais relevantes eventos de cinema do país, estuda, no pior cenário, transferir sua programação para plataformas virtuais.
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Clique e AssineCom mais de 40 anos de existência, a Mostra costuma ocorrer espalhada por São Paulo em endereços diversos, desde cinemas de rua e casas de cultura a museus e espaços ao ar livre, como o Vão Livre do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) e o Auditório do Parque Ibirapuera. Por causa da pandemia, a organização do evento ainda não bateu o martelo quanto aos trâmites da estrutura desse ano. “Nós estamos estudando muitas possibilidades para ver como ela vai acontecer, mas que vai acontecer é um fato”, diz Renata de Almeida, diretora do evento. “Existe a chance de ser totalmente online, mas somente se não pudermos fazer sessões ao ar livre, ou sequer drive-ins.”
Marcada para acontecer de 22 de outubro a 4 de novembro, a 44ª Mostra já está familiarizada com a virtualização. Há mais de 10 anos, foi uma das primeiras a adotar parcialmente a internet para algumas sessões, na plataforma de filmes Mubi. “Agora, uma das possibilidades mais executáveis é expandir esse lado da Mostra, já que a parte presencial vai ter que ser resolvida até meio que em cima da hora, dada a incerteza do momento”, aponta Renata. Caso sejam possíveis exibições ao ar livre, a diretora ressalta a exigência de máscaras e distanciamento social por parte de espectadores e funcionários.
Agora, a pouco mais de quatro meses de distância, o que está à todo vapor é o processo de seleção e curadoria dos filmes – aberto na última segunda, 1. Renata explica que os títulos em avaliação foram produzidos antes da pandemia apertar, o que significa que a qualidade e o rigor artístico não sofreram alterações. “É mais na Mostra do ano que vem que veremos esses filmes ‘pandêmicos’. Provavelmente vamos ter muitas produções caseiras, feitas com amigos e colegas, à exemplo de alguns romenos e húngaros que já recebemos para esse ano”, acrescenta.
Até o momento, o evento conta somente com o patrocínio da SPCine, estatal da prefeitura que promove o desenvolvimento de produções audiovisuais em solo paulistano, da CPFL, grupo do setor de energia, e do Instituto Olga Rabinovich, do setor audiovisual. Enquanto outros parceiros de longa data da Mostra não se pronunciam – mais uma consequência do momento de incertezas –, boa parte da organização ainda está sem muitas definições. A falta de apoio também preocupa o quadro de funcionários, agora muito mais enxuto que o normal, já que grande parte da mão de obra no setor cultural trabalha conforme a demanda em eventos de grande porte como o festival. Com a parceria da SPCine, os próximos meses já são vistos de forma mais otimista, mas ainda marcadamente incerta.
“Todos estamos vivendo essa insegurança, mas não podemos deixar que ela nos paralise. Se em um primeiro momento nós não víamos saída dessa situação toda, agora já estamos mais otimistas, aprendendo a lidar com os problemas que se apresentam e pensando nas soluções para eles. É só o que podemos fazer nesse momento”, diz Renata.