A Academia Sueca elegeu o norueguês Jon Fosse, 64 anos, vencedor do Nobel de Literatura 2023. Segundo a instituição, o autor e dramaturgo foi laureado por suas peças inovadoras e por sua prosa, que é capaz de dar voz ao indizível. A Academia também ressaltou o estilo criado pelo autor, apelidado com seu nome, o “minimalismo Fosse”, no qual histórias cotidianas são descritas de forma direta e envoltas em dramas que colocam seus personagens diante de escolhas difíceis — e até impossíveis.
Comparado a grandes dramaturgos da história, como o também norueguês Henrik Ibsen (1828-1906) e o irlandês Samuel Beckett (1906-1989), Fosse estudou literatura na Universidade de Bergen e é admirado pela versatilidade: escritor em tempo integral durante boa parte da vida, redigiu romances, peças de teatro, poemas, contos, ensaios e livros infantis. Sua obra já foi traduzida em mais de 50 idiomas, e suas peças foram encenadas em teatros de todo o mundo. Entre os principais romances do autor, destacam-se obras como Septology, um romance dividido em sete partes e publicado em três volumes, que é o exemplar máximo da “prosa lenta” do autor, marcada por reflexões, monólogos internos e um ritmo vagaroso. Ele também colaborou com a tradução de uma edição da Bíblia para o norueguês e é convertido ao catolicismo.
Após receber a notícia, o autor se declarou ao veículo Reuters, afirmando ver o prêmio como reconhecimento da língua em que escreve, versão do norueguês acatada por 10% da população do país. Sucinto, Fosse disse estar “sobrecarregado de emoções e ligeiramente assustado”, além de honrado pela cerimônia, que “celebra a literatura que, antes de tudo, almeja ser literatura, sem outras considerações.”
Segundo o responsável por avisar o vencedor, Fosse estava dirigindo pelo interior da Noruega quando recebeu a chamada: “Nem todos acreditam em mim quando ligo, mas ele estava preparado para ter confiança até a hora do anúncio, e tivemos a oportunidade de começar a discutir afazeres práticos”.
Entre seus livros que ganharam tradução para o português brasileiro estão os romances É a Ales e Melancolia. Ainda neste mês, a editora Fósforo vai publicar o livro Brancura, no qual um homem dirigindo sem rumo se perde em uma floresta e depara com um ser de brancura excepcional. Confira a seguir um trecho da obra:
“Está tão escuro agora (…) e bem na minha frente avisto a silhueta de alguma coisa que parece uma pessoa. Uma silhueta luminosa que se torna cada vez mais nítida. Sim, um contorno bem perceptível no escuro, na minha frente. Que estaria distante ou perto de mim. Não sei dizer com certeza. É impossível dizer se está perto ou longe. Mas está lá. Uma silhueta branca. Brilhante. Acho que ela vem caminhando na minha direção. Caminhando é modo de dizer. Porque caminhar ela não caminha. Ela apenas se aproxima, cada vez mais. A silhueta é completamente branca. Agora percebo nitidamente. Que é branca. A brancura.”