Apaixonado por música, o jovem Gabriel Leone foi escolhido pelos colegas de turma para interpretar Cazuza em uma peça do colégio. Ao subir ao palco, entusiasmou a plateia, impressionou o diretor e foi convidado para assistir a aulas de teatro. Foi assim, dando vida ao ruidoso roqueiro, que o estudante carioca descobriu sua vocação. “Pouco depois, eu já estava em cartaz”, afirma. Hoje, aos 29 anos, e com uma década de carreira na TV, Leone se prepara para interpretar outro ídolo nacional nas telas: o tricampeão de Fórmula 1 Ayrton Senna, que terá a vida vertida em série pela Netflix. “Vou me entregar de corpo e alma para trazer a emoção que ele nos dava”, diz. As gravações devem começar nos próximos meses e ainda não há data para a estreia do programa.
O anúncio de Senna coroa um ano de ouro para Leone, que empilha papéis complexos, e bem selecionados, na TV e no cinema nacional — e logo mais em Hollywood. O ator fará em 2023 sua estreia internacional, e coincidentemente em alta velocidade: viverá o piloto Alfonso de Portago no longa Ferrari (também ainda sem data de estreia), de Michael Mann, que narra a história da lendária escuderia italiana, com Adam Driver na pele de Enzo Ferrari. Para rodar a produção, o ator passou quatro meses na Itália e mergulhou no automobilismo. “Tenho memórias de criança de Senna, e depois do Rubinho. Mas não tinha um conhecimento profundo de F1”, diz ele, que hoje se declara fã do esporte.
Ayrton Senna: Uma Lenda a Toda Velocidade
Lançado na televisão em 2013, como vilão da novelinha juvenil Malhação, Leone despontou na ficção adulta em Verdades Secretas (2015) e desde então não parou de trabalhar. Curiosamente, o mesmo ator que se converteu de forma instantânea em galã também se notabilizou, já na tenra idade, pelo gosto por papéis difíceis e “densos”. Revelou-se, sobretudo, a epítome da metamorfose ambulante cantada por Raul Seixas, ao viver transformações notáveis nas telas. No longa Eduardo e Mônica, convenceu como o adolescente “meio tonto” descrito por Renato Russo — embora o Leone real seja muito mais parecido com Mônica, a jovem de aura cult vivida por Alice Braga, apaixonada por filmes do francês Jean-Luc Godard.
O “bandido gato” e dependente químico Pedro Dantas, vivido por ele na série Dom, que estreou recentemente sua segunda temporada no Amazon Prime Video, confirmou o pendor do ator para as reinvenções radicais. “O Pedro representa um movimento que eu fiz de variar não só a caracterização, coisa que sempre gostei de fazer, como a energia do personagem”, diz ele. Leone também surpreendeu como outro Dom — este de origem nobre — na série IndependênciaS, da TV Cultura: no papel de um ousado príncipe Miguel, irmão de dom Pedro I, atuou ao lado de Antonio Fagundes e sob a direção intelectualizada de Luiz Fernando de Carvalho.
Quase Heróis: os Campeões sem Título da Fórmula 1
Com a estreia no exterior, Leone segue os passos de colegas como Rodrigo Santoro, Wagner Moura e Alice Braga, e busca conciliar as oportunidades internacionais com o Brasil. “O que mais me interessa são os personagens e os profissionais com quem trabalho, seja em inglês, espanhol, português — e seja aqui ou lá fora”, afirma o ator, que veio da Itália direto rumo a São Paulo para as gravações do filme Barba Ensopada de Sangue, de Aly Muritiba, além de emendar a produção da terceira temporada de Dom. O ator também está em cartaz com O Rio do Desejo, filme adaptado de um conto de Milton Hatoum sobre três irmãos apaixonados pela mesma mulher. No raro tempo livre, Leone garante ser um cara simples: gosta de assistir aos jogos do Fluminense, ouvir música, ir ao cinema e aproveitar a casa nova, onde mora com a namorada, a também atriz Carla Salle. “Sou caseiro”, diz. Até quem pilota a 300 quilômetros por hora precisa de uma pausa frugal na vida.
Publicado em VEJA de 5 de abril de 2023, edição nº 2835
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