Karim Aïnouz é um cineasta de rara sensibilidade para personagens femininas. Ele mostra mais uma vez seu talento no melodrama tropical A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, passado no Rio de Janeiro dos anos 1950. O filme foi recebido com entusiasmo na sessão de gala na noite desta segunda-feira, 20, dentro da seção Um Certo Olhar do Festival de Cannes.
Baseado em livro de Martha Batalha, o longa-metragem tem como personagens principais as irmãs Guida (Julia Stockler) e Eurídice (Carol Duarte). A primeira, autoconfiante, desinibida, sonha com aventuras amorosas. A insegura Eurídice deseja estudar piano num conservatório em Viena. Mas elas vivem numa sociedade machista e patriarcal que vai colocar muitos empecilhos em sua caminhada em busca de seus sonhos e desejos.
Guida apaixona-se por um marinheiro grego e parte com ele para Atenas, crente de que volta casada. Mas, meses depois, está de volta, grávida. Seu pai, o padeiro português Manuel (Antônio Fonseca), a expulsa de casa, sem causar protestos veementes da mãe, a submissa Ana (Flavia Gusmão). Para piorar, Manuel mente que Eurídice está em Viena – na verdade, ela está casada com Antenor (Gregório Duvivier). Assim, as duas irmãs ficam separadas, uma achando que a outra está na Europa.
Uma das coisas mais difíceis no cinema é injetar um filme de vida. E Aïnouz consegue. Guida e Eurídice têm vida, mesmo quando sofrem revezes e precisam se adaptar – e muitas vezes se conformar. As duas contam com o apoio de outras mulheres para navegar o mundo machista. Com boas atuações da dupla central, o filme ainda tem uma aparição de Fernanda Montenegro que não vai deixar ninguém de olhos secos.