Promoção do Ano: VEJA por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

O jovem autor que expõe as raízes da revolta na França atual

Em dois relatos curtos, mas acachapantes, Édouard Louis expõe o mal-estar do país por meio das histórias de pobreza e opressão de seus pais

Por Diego Braga Norte Atualizado em 4 jun 2024, 09h57 - Publicado em 30 jul 2023, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • DESENCANTO - Édouard Louis: autor gay e de origem pobre com uma pena afiada — Macron que o diga
    DESENCANTO - Édouard Louis: autor gay e de origem pobre com uma pena afiada — Macron que o diga (Joel Saget/AFP)

    A pobreza na França tem matizes bem diferentes da miséria no Brasil — mas existe. O escritor Édouard Louis levou uma vida muito pobre durante sua infância e adolescência, nos anos 1990 e 2000. Filho de um operário e de uma dona de casa, ele e seus quatro irmãos passaram por grandes privações em Hallencourt, vilarejo com menos de 1 500 moradores no norte do país. Além das necessidades materiais, Louis e sua família sentiam-se humilhados por terem de recorrer aos vizinhos para se alimentar, “pedindo emprestado” um pacote de macarrão ou batatas. Soma-se ao calvário o fato de Louis, desde muito jovem, se reconhecer gay numa sociedade brutalmente machista. É esse contexto carente, violento e ignorante que emerge de Lutas e Metamorfoses de uma Mulher e Quem Matou Meu Pai. O díptico foi escrito para ser lido de uma tacada só, pois se trata de obras complementares. A primeira aborda a relação do autor com sua mãe e a outra, com seu pai. No conjunto, o escritor de 30 anos atinge uma voltagem devastadora que justifica sua fama de garoto prodígio da literatura francesa.

    Lutas e metamorfoses de uma mulher

    Adepto da chamada autoficção, estilo que rendeu o Nobel do ano passado à sua conterrânea Annie Ernaux, Louis é fiel aos fatos, mas relembra sua história com a maestria que só ótimos escritores dominam. Se em seu primeiro livro, O Fim de Eddy (publicado pela Tusquets em 2018), ele narra como se descobriu e se assumiu homossexual, esses dois relatos breves vão além do relato memorialista: Louis faz arte, expõe pensamentos e conjecturas políticas e sociais, cria tensões, comove e instiga seus leitores. Lê-lo é fundamental para entender a França hoje, sobretudo o descontentamento dos “perdedores da globalização”, a classe baixa trabalhadora que viu empregos diminuírem, salários minguarem e o custo de vida explodir.

    LUTAS E METAMORFOSES DE UMA MULHER E QUEM MATOU MEU PAI, de Édouard Louis (tradução de Marília Scalzo; Todavia; 112 e 72 páginas; 54,90/49,90 reais ou 44,90/39,90 reais em e-book)
    LUTAS E METAMORFOSES DE UMA MULHER E QUEM MATOU MEU PAI, de Édouard Louis (tradução de Marília Scalzo; Todavia; 112 e 72 páginas; 54,90/49,90 reais ou 44,90/39,90 reais em e-book) (//Divulgação)

    Um exemplo de seu realismo desencantado é a fúria contra as políticas liberais do atual presidente da França. “Agosto de 2017 — o governo de Emmanuel Macron tira 5 euros por mês dos mais necessitados, retém 5 euros por mês dos auxílios sociais que permitem aos mais pobres na França encontrar moradia e pagar aluguel. No mesmo dia, ou quase, não importa, anuncia uma redução de impostos para as pessoas mais ricas”, escreve. E conclui, exprimindo as agruras do próprio pai: “Emmanuel Macron tira a comida da sua boca”.

    Continua após a publicidade

    Quem matou meu pai

    A indignação do autor e de muitos outros franceses tem raízes em motivos reais, e muitas vezes irrompe em violência, como nos protestos dos coletes amarelos, em 2018, e nas manifestações contra a reforma da Previdência do país. Em julho, a mais recente onda de revolta — desencadeada pela morte de um jovem de 17 anos baleado pela polícia — também teve os alvos contumazes: a classe política e as elites dirigentes.

    O fim de Eddy

    O mal-estar difundido no país permeia seus personagens. No livro sobre a mãe, Louis fala de “uma pessoa que lutava pelo direito de ser mulher”. Aos 20, Monique já tinha dois filhos, nenhuma profissão e um casamento infeliz. Mas, ao menos, obteve a redenção na maturidade. Já o pai — que ele nem nomeia, talvez por mágoa do homem sádico — “não pôde estudar, não pôde viajar, não pôde realizar seus sonhos”. Filho de dois perdedores, Louis é a exceção que ascendeu por meio dos estudos. Mesmo na França arrasada, a vida é capaz de mostrar o caminho.

    Continua após a publicidade

    Publicado em VEJA de 2 de agosto de 2023, edição nº 2852

    CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

    O jovem autor que expõe as raízes da revolta na França atualO jovem autor que expõe as raízes da revolta na França atual
    Lutas e metamorfoses de uma mulher
    O jovem autor que expõe as raízes da revolta na França atualO jovem autor que expõe as raízes da revolta na França atual
    Quem matou meu pai
    O jovem autor que expõe as raízes da revolta na França atualO jovem autor que expõe as raízes da revolta na França atual
    O fim de Eddy
    logo-veja-amazon-loja

    *A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Veja e Vote.

    A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

    OFERTA
    VEJA E VOTE

    Digital Veja e Vote
    Digital Veja e Vote

    Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

    1 Mês por 4,00

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

    a partir de 49,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.