Ocidente bombardeia a Rússia em novo front: a guerra cultural
Do tradicional balé Bolshoi à banda de rock Green Day, Rússia enfrenta boicotes e cancelamentos em todas as áreas da arte e entretenimento
Para além das sanções econômicas às quais a Rússia foi submetida após a invasão da Ucrânia, como o banimento de bancos russos do sistema bancário Swift, o país também está enfrentando um boicote sem precedentes no campo das artes e do entretenimento. E em todos os segmentos: desde o balé, tradicionalíssimo e motivo de orgulho nacional da pátria de Putin, até as artes plásticas e a música, transformando-se em uma ferramenta de uma guerra com o intuito de isolar a Rússia também culturalmente, excluindo-a do circuito mundial do audiovisual e dos espetáculos.
Ciente disso, o próprio governo da Ucrânia divulgou recentemente um comunicado instando a comunidade internacional a cancelar todos os projetos de arte que tenham sido implementados com dinheiro russo, citando como exemplo as competições internacionais e exposições como os festivais de cinema de Cannes, Berlim e Veneza, bem como feiras internacionais do livro. “A cultura russa, quando usada como propaganda, é tóxica! Não seja cúmplice”, afirma o comunicado assinado por Oleksandr Tkachenko, ministro da Cultura da Ucrânia.
O balé, uma das artes em que os russos mais se destacam, está sendo um dos principais prejudicados. A Royal Opera House, em Londres, cancelou uma turnê do centenário Balé Bolshoi devido à crise na Ucrânia. “Uma temporada de verão do Bolshoi Ballet na Royal Opera House estava nos estágios finais de planejamento”, afirmou em comunicado. “Infelizmente, nas atuais circunstâncias, a temporada não pode ir adiante”. No último sábado, 26, um teatro em Northampton, no Reino Unido, cancelou uma apresentação do Balé Estatal Russo da Sibéria, que vinha se apresentando no país desde 2007 e iria fazer uma temporada de três noites no lugar. As apresentações em Wolverhampton e em Dublin, na Irlanda, também foram canceladas em solidariedade ao povo da Ucrânia, segundo um comunicado divulgado pelos organizadores. “A decisão de cancelar é absolutamente a coisa certa a fazer dadas as circunstâncias. No entanto, isso terá um impacto financeiro significativo no teatro, que ainda está em recuperação após o fechamento forçado pela pandemia de Covid-19”, disse a administração da casa de Wolverhampton.
Em Nova York, o Carnegie Hall ameaçou cancelar uma apresentação da Filarmônica de Viena, que seria conduzida pelo maestro Valery Gergiev, artista muito próximo do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Como solução, o maestro foi substituído às pressas pelo canadense Yannick Nézet-Séguin. O pianista Denis Matsuev, que estava escalado para se apresentar junto com o maestro Gergiev, também foi substituído. Em 2014, ele apoiou a anexação da Crimeia pela Rússia. Na Europa, a Rússia foi banida também da edição de 2022 do Eurovision, a competição musical mais popular do continente, em que artistas competem pelo título representando os países participantes – mais ou menos como uma “Eurocopa musical”.
Na Suécia, país que não faz parte da Otan e recebeu uma ameaça velada da Rússia caso queira se juntar à aliança, também ocorreram boicotes. O Festival de Cinema de Estocolmo, que acontecerá de 9 a 20 de novembro, afirmou que nenhum filme que tenha financiamento estatal russo será exibido. “Essa decisão é lamentável, mas um marco necessário em um momento como este. As ações da Rússia são inaceitáveis”, disse a diretora do festival, Beatrice Karlsson. O festival também escolheu a Ucrânia como seu país homenageado este ano, o que significa que sediará um programa de exibições de filmes, visitas de diretores e seminários relacionados ao cinema ucraniano.
Na cultura pop, o país também já começa a sentir os efeitos do boicote. A banda de punk rock Green Day anunciou o cancelamento do show que faria em Moscoy no dia 29 de maio. “Com o coração partido, mas por causa dos eventos atuais, nós sentimos que é necessário cancelar os shows em Moscou, no Spartak Stadium”, disse a banda em comunicado.