Quando os portões do Epcot e do Hollywood Studios abriram-se novamente ao público na quarta-feira, 15, visitantes mascarados aguardavam em fila pela checagem de temperatura exigida pelas novas normas de segurança. Os dois parques foram os últimos do complexo da Disney em Orlando a retomar as atividades depois da quarentena implantada em função da pandemia de coronavírus – os tradicionais Magic Kingdom e Animal Kingdom estão na ativa desde o sábado, 11, e o Universal Orlando e o Sea World reabriram no mês passado.
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Clique e AssineAlém da medição da temperatura, as medidas de segurança exigem dos visitantes o uso constante de máscaras e o respeito ao distanciamento obrigatório, delimitado por marcações nas calçadas e filas das atrações. A Disney ainda reduziu sua capacidade de público para menos da metade, e exige reserva online para os parques. As fotos com os personagens também estão proibidas, já que os funcionários teriam de manusear câmeras e romper a distância obrigatória para o registro.
Apesar disso, a empresa e o governo da Flórida têm enfrentado críticas ferrenhas pela reabertura. Isso porque, desde a última semana, os casos de coronavírus no estado não param de crescer – só no sábado, 11, dia da reabertura de parte dos parques, foram 10.360 ocorrências. A situação não melhorou no domingo, que registrou mais de 15.000 casos. Já na terça-feira, dia anterior à volta do Epcot e do Hollywood Studios, o estado bateu o recorde de 132 mortes em 24 horas. Mas a marca foi ultrapassada novamente nesta quinta-feira, com 156 óbitos segundo o departamento de saúde local. A título de comparação, a sede europeia da Disney também reabriu nesta quarta-feira, em Paris – mas o país já deixou o pico há semanas e tem mantido os novos casos controlados.
Já a Flórida, com mais de 300.000 casos e avanço acelerado, já é considerada o novo epicentro da doença nos Estados Unidos – o que o bom senso diria não ser exatamente um bom momento para a reabertura de parques temáticos. Apesar disso, os americanos esgotaram as reservas para os próximos sete dias no Hollywood Studios, e aglomeraram-se em filas para ver Mickey e companhia e aventurar-se por brinquedos radicais. Ou, quem sabe, radical mesmo seja a sensação de visitar um parque em meio a uma pandemia mortal e desafiar, de alguma forma, as recomendações científicas.
Nisso, há de se apontar uma trágica semelhança entre Brasil e Estados Unidos. Além das comparações já manjadas entre os presidentes, há ainda um negaciosismo perigoso de parte significativa da população, a quem é mais cômodo acreditar que não há nada a temer. Nesse sentido, a reabertura da Disney em meio ao pico da pandemia na Flórida carrega um simbolismo perigoso, assim como as praias brasileiras lotadas.
Já sob a ótica econômica, para a gigante do entretenimento, a reabertura é nada menos do que um grito pela sobrevivência: dos parques aos lançamentos do cinema, quase todos os negócios da Disney se baseiam em hábitos que requerem aglomerações, e por isso ela foi duramente atingida – a reabertura é uma tentativa de contornar a perda, estimada na casa dos bilhões de dólares, e ver uma luz no fim do túnel.
Na outra ponta, o governo de Hong Kong solicitou na terça-feira, 14, que a Disney voltasse a fechar seu parque no País. A atração estava ativa desde 18 de junho, depois de passar mais de cinco meses de portas fechadas. Uma nova onda de infecção preocupa os governantes, que lançaram mão de novas medidas restritivas como o fechamento de bares, estabelecimentos noturnos, karaokês e um maior controle de restaurantes.
Com 7,5 milhões de habitantes, Hong Kong registrou pouco mais de 1.600 casos desde o início da pandemia – e os 55 da última semana foram suficientes para restringir novamente a quarentena. Mas a Disney americana não parece interessada em seguir o exemplo de suas sedes internacionais.