Paul Stanley sobre aposentadoria do Kiss: “Chegamos ao limite”
Aos 71 anos, ele explica por que a banda já anunciou e adiou tantas vezes a decisão — e jura que os shows que fará no Brasil em abril serão os últimos
Ao se apresentar no Brasil, no ano passado, o Kiss avisou que seria a última vez. O que explica a vinda para tocar no país de novo? No palco, eu pensei: absorva e aproveite tudo, pois nunca mais voltaremos. Estávamos dizendo adeus a lugares e pessoas mágicas. Quando pediram para voltarmos mais uma vez, foi um choque. A única razão para voltarmos é a demanda.
O Kiss fez uma turnê de despedida em 2000, mas continuou na estrada por mais 22 anos. O fim agora é para valer mesmo? Ninguém tem 100% de certeza de nada. Se você está vivo, pode mudar de opinião. Dito isso, não vejo como poderíamos continuar. O que fazemos é como uma maratona, e não há atletas na nossa idade. Carregamos cerca de 20 quilos de figurino por mais de duas horas. Isso cobra um preço. É por isso que não acho possível uma nova turnê no futuro. Uma coisa é uma banda acabar porque seus integrantes brigaram, outra coisa é terminar porque chegamos ao nosso limite. Nós nos amamos.
Em 2023, o Kiss completa cinquenta anos. Qual o significado de atingir essa marca durante uma turnê de despedida? É a celebração de uma vitória. É como dar uma volta olímpica no campo de punhos levantados, agradecendo a todos os fãs pelo apoio.
O senhor já fez várias cirurgias, sendo a mais recente no pé. Elas foram decorrentes dos esforços no palco? Sim, fiz oito cirurgias. São mais cirurgias que uma pessoa comum faria em cinco vidas. Faço coisas que atletas já pararam de fazer há muito tempo na minha idade. Fico feliz que haja médicos, procedimentos e terapias para rejuvenescer e reparar você. Mas há um limite. O que eu faço no palco a maioria das pessoas com a metade da minha idade não conseguiria fazer.
O último show do Kiss será em Nova York, onde a banda surgiu. Haverá participação especial dos ex-integrantes? Não sei. Não se trata de uma celebração do Kiss com seus membros originais. Eu adoraria encontrar uma maneira de eles participarem, se isso fizer sentido e for realista. O espírito dessa turnê é a vitória e a prosperidade da banda por cinquenta anos. Nós nunca poderíamos ter criado o Kiss sem Ace (Frehley) e Peter (Criss), mas nunca chegaríamos até aqui com eles.
O senhor vai, enfim, se aposentar? Tenho minha banda, a Soul Station. Pinto quadros também. Não vejo o fim do Kiss como minha aposentadoria. A música está no meu sangue.
Publicado em VEJA de 29 de março de 2023, edição nº 2834