Há quase cinquenta anos, os cinemas americanos começaram a exibir Star Wars (1977), uma ópera espacial inovadora que revolucionou a indústria cinematográfica. Ambientada em uma galáxia muito, muito distante, a aventura seguia um jovem garoto de fazenda, Luke Skywalker (Mark Hamill), envolvido em um conflito galáctico entre o opressivo Império e a libertadora Aliança Rebelde. A saga criada por George Lucas cresceu, se multiplicou e furou a bolha do audiovisual, alcançando sucesso também nos livros, quadrinhos, desenhos, séries e por onde quer que se expandisse. Nos jogos eletrônicos, porém, nunca decolou de forma meteórica e cósmica que os fãs esperavam. Para mudar de uma vez por todas essa escrita, a aposta da Disney, que detém os direitos da história desde 2012, é o novo Star Wars: Outlaws, que começará a ser distribuído no próximo dia 30.
O jogo desenvolvido pela francesa Ubisoft se passa entre O Império Contra-Ataca (1980) e O Retorno de Jedi (1983), um espaço temporal pouco explorado na cronologia, quando ocorre a guerra civil entre os rebeldes e o Império. Os jogadores assumirão o papel de uma caçadora de recompensas chamada Kay Vess, claramente inspirada em Han Solo (Harrison Ford), a navegar no submundo criminoso da galáxia. A brincadeira foi projetada como uma experiência de mundo aberto, na qual é possível explorar diferentes planetas, assumir várias missões de caça a recompensas e fazer escolhas que influenciam a narrativa. “A equipe se concentrou na autenticidade pesquisando profundamente os materiais originais de Star Wars, incluindo arte conceitual e até os kits de modelos usados nos filmes”, disse a VEJA Benedikt Podlesnigg, diretor de arte de Outlaws. “Essa abordagem nos ajudou a criar um jogo que parece uma extensão natural da trilogia original de George Lucas.”
A história por trás de Outlaws ajuda a entender o investimento da Disney em um videogame com características que favorecem a experiência do jogador, colocando-o em cenários familiares da saga e ao lado de personagens que emulam os protagonistas originais. Desde 1982, foram lançados mais de 100 títulos inspirados no faroeste intergaláctico. Nenhum deles, no entanto, entregou satisfatoriamente o que promete a Ubisoft, gigante francesa responsável por franquias de respeito como Assassin’s Creed e Far Cry. Especialista nessas aventuras em que os jogadores desbravam mundos inteiros e até universos, a empresa gastou cerca de quatro anos no formato do novo jogo eletrônico. “O valor de Star Wars em videogames está na capacidade de explorar o vasto universo da saga de forma interativa”, diz Marthe Jonkers, também envolvida no desenvolvimento. “Os jogadores podem mergulhar no mundo, conhecer personagens e descobrir histórias ocultas, criando uma experiência envolvente.”
Após um acordo de exclusividade de dez anos com a americana Electronic Arts, conhecida pelo defunto jogo Fifa, a Disney decidiu que títulos inspirados na saga, como Battlefront e Jedi, embora tenham se saído bem em termos de vendas, não estavam à altura do que os fãs mereciam. Além de diversificar as parcerias, a gigante do entretenimento investiu cerca de 1,5 bilhão de dólares na Epic Games, do popular Fortnite, e deve trabalhar no cruzamento dessas mídias, trazendo títulos de jogos para o audiovisual, e vice-versa — como aconteceu há pouco com Fallout, que virou série na Amazon, e Borderlands, adaptado para a telona. “Os games podem alcançar diversos públicos em diferentes plataformas, como PC, consoles e mobile”, afirma o analista Carlos Silva, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). “Além disso, há um efeito sinérgico interessante entre games, filmes, séries e outros conteúdos.” É o poder da força.
Publicado em VEJA de 23 de agosto de 2024, edição nº 2907