Depois de meses na corda-bamba, a indústria cinematográfica chinesa enfim têm uma boa notícia: o longa The Eight Hundred, primeiro grande lançamento nacional desde a retomada das atividades, chegou aos cinemas locais nesta semana, com uma bilheteria acumulada em mais de 40 milhões de dólares. Lançado oficialmente na sexta-feira, 21, a produção embolsou 14 milhões de dólares (100 milhões de yuan) em seu dia de abertura, mas já vinha sendo exibida de maneira limitada desde o dia 14, o que fez crescer as cifras acumuladas.
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Clique e AssinePrimeiro epicentro da pandemia de coronavírus, a China fechou cerca de 70.000 salas de cinema em janeiro. De lá pra cá, a indústria local assistiu suas tentativas de retorno esbarrarem no receio da população e fracassarem repetidamente. Na primeira delas, em março, 600 salas voltaram à ativa, mas fecharam na semana seguinte depois de amargar míseros 2.000 dólares em bilheteria e poltronas vazias. Quatro meses depois, em 20 de julho, a retomada finalmente engrenou, conduzida a fogo baixo pelo relançamento de queridinhos no país, como Harry Potter e a Pedra e Filosofal e Interestellar. Nesse cenário esperançoso, The Eight Hundred é o maior esforço de uma recuperação efetiva do setor desde a reabertura, e o primeiro filme a bater os 100 milhões de yuan desde o início da pandemia, segundo dados do China Box Office.
Dirigido por Guan Hu, mais conhecido pelo longa Mr Six, lançado em 2015, e com um orçamento na casa dos 80 milhões de dólares, o título desponta como o filme de guerra mais ambicioso já feito no país ao reviver a famosa defesa da Sihang Warehouse, em 1937, um dos episódios centrais da guerra sino-japonesa. Há, inclusive, quem o descreva como o “Dunkirk chinês”, em referência ao oscarizado longa de Christopher Nolan. Além da comparação, pesa em seu favor uma polêmica instigante: o longa havia sido escolhido para abrir o Festival de Shangai em 2019, mas foi limado da lista na véspera da exibição e teve o lançamento cancelado por supostamente desagradar o partido comunista chinês. Não à toa, a população ficou curiosa, e as previsões mais otimistas projetam que a bilheteria bata a marca dos 200 milhões de dólares durante esse final de semana.
O bom desempenho é uma luz no fim do túnel não só para a China, mas para a indústria cinematográfica como um todo, que amargou um prejuízo na casa dos bilhões na primeira metade do ano. Por ser o segundo mercado mais rentável, atrás apenas dos Estados Unidos, o aquecimento da indústria local pode impulsionar a curva de recuperação do setor, já que o vai-e-vem dos cinemas chineses durante a pandemia, junto ao mercado americano, foi o principal entrave para grandes estreias globais. A exemplo disso, a Disney optou por lançar o aguardado Mulan direto no Disney+, mas o live-action chega a alguns mercados asiáticos em setembro. Também entre o fim de agosto e o início de setembro, Tenet, filme de Christopher Nolan sobre o qual recai a expectativa de “salvador da indústria”, assume as telas em mais de 70 países. Enfim, uma esperança para os cinemas.