Se não fosse o título de uma música romântica, a frase cantada por Frank Sinatra na clássica I’ve Got You under My Skin (eu sinto você sob minha pele) bem que poderia definir a categoria de dermocosméticos que vem ganhando o coração — e a pele — das brasileiras. Os produtos em sérum (soro, em latim) já dividem quase de igual para igual as prateleiras com os produtos tradicionais e estão entre os mais receitados por dermatologistas. O motivo é simples. De consistência aquosa, textura leve e fluída e não gordurosa, são perfeitos para os tratamentos em cútis mais oleosas, característica da maioria da população no país. E cabem melhor ainda durante o verão, quando o calor aumenta a produção de óleo pelas células da epiderme e fica praticamente inviável usar opções em cremes mais pesados e mesmo as formuladas em gel. “O sérum tem uma rápida absorção e, por isso, funciona bem para a pele do brasileiro”, diz Calu Franco Tebet, dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia que faz estágio no Mount Sinai Hospital, em Nova York, nos Estados Unidos.
Encontrar fórmulas adequadas aos diversos tipos de pele e que chegassem a camadas mais abaixo da superfície sempre foi um desafio para a indústria cosmética. Somente nos últimos anos é que começaram a surgir versões diferentes dos velhos cremes pesados e com pouca penetração. Primeiro foram as loções e depois os géis. Os séruns são a evolução de todo o processo e os que apresentam melhores resultados. Eles reúnem em um mesmo produto vários princípios ativos, como qualquer artigo dermocosmético, porém com algumas vantagens. Por permitirem a retenção de mais água na camada superficial da pele, fornecem maior hidratação, aumentando o viço e a luminosidade da cútis facial. Sua textura aquosa consegue reunir e carregar até níveis mais profundos da pele altas concentrações de substâncias terapêuticas. Sem falar da absorção, mais rápida, deixando uma sensação de leveza na pele logo após a aplicação das gotas. E geralmente não é preciso gotejar muito. Quatro gotas são suficientes.
Hoje é possível encontrar hidratantes, clareadores, produtos antienvelhecimento ou nutritivos na apresentação em sérum. Entre os mais procurados estão, é claro, os cosméticos para controle da oleosidade e os anti-acne, problema que afeta mais de 90% dos adolescentes e 56,4% da população adulta no país, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia. A variedade dos compostos ativos presentes nos produtos é bem grande, incluindo de ácido hialurônico, retinol e vitamina C, usados em tratamentos antienvelhecimento, a aqueles indicados para o controle da produção sebácea, como o ácido salicílico e niacinamida. A escolha dependerá da necessidade. “A seleção da alternativa ideal vai de acordo com o que tem dentro do sérum e o que cada pele necessita”, explica a dermatologista Calu Franco.
A procura pelos produtos cresceu de maneira significativa nos últimos dois anos, como aliás aconteceu com a maioria dos artigos de beleza — a exceção foram as maquiagens, que registraram queda nas vendas, dado o uso de máscaras que escondem o rosto. A título de exemplo, de acordo com a consultoria Spate, especializada no mercado de beleza, a venda de séruns antirrugas cresceu entre 20% e 40% em 2020. De olho no mercado em ascensão, as empresas diversificaram o portfólio. A marca americana Skinceuticals, uma das mais recomendadas pelos dermatologistas, oferece hoje no Brasil sete artigos em sérum, todos com excelente aceitação pelas brasileiras. Entre eles, estão um concentrado de ácido hialurônico, indicado para tratamento antienvelhecimento, e uma linha destinada ao cuidado com a pele oleosa. O lançamento mais recente é um sérum hidratante com propriedades calmantes. O público recomendado é o das pessoas com pele oleosa. As empresas nacionais seguem a tendência e, em 2021, puseram no mercado várias opções da beleza em gotas. O Boticário, por exemplo, lançou um sérum com alta concentração de ácido hialurônico e a Natura criou um produto destinado à proteção do cabelo dos danos causados pelo sol, praia e piscina. Funciona, mas, como sempre, recomendam-se cautela no uso e a permanente consulta a profissionais. A pele agradece.
Publicado em VEJA de 12 de janeiro de 2022, edição nº 2771