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Quem é o artista que fez Spotify perder bilhões e teve apoio de Bolsonaro

Com seu podcast negacionista, humorista Joe Rogan provocou debandada de artistas como Neil Young da plataforma - e a colocou em sinuca de bico

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 fev 2022, 14h36 - Publicado em 3 fev 2022, 13h00
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  • Se fosse em outras circunstâncias, os fãs estariam soltando fogos de artifício para o Spotify: a plataforma conseguiu o improvável feito de reunir um célebre quarteto de folk rock americano: David Crosby, Stephen Stills, Graham Nash e Neil Young. Pena que o motivo não foi nada nobre – da parte do Spotify. O quarteto organizou um boicote à plataforma devido à insistência do Spotify em manter no ar o podcast The Joe Rogan Experience – um programa que tem divulgado informações falsas sobre a pandemia e as vacinas. Mas pouca gente sabe quem é Joe Rogan, de 54 anos – e como o programa do humorista conseguiu causar toda essa celeuma.

    Conhecido por seu estilo desbocado, Rogan se notabilizou por suas apresentações de stand-up comedy e por ser comentarista do UFC, já que ele também é faixa preta de jiu-jitsu brasileiro e de taekwondo. No podcast, ele deixa os convidados falarem horas sobre assuntos aleatórios, em bate-papos que parecem saídos diretamente de mesas de bares. Antes de ter a exclusividade de seu programa comprada pelo Spotify – segundo fontes do mercado americano, por cerca de 100 milhões de dólares -, em 2020, ele também veiculava suas opiniões no YouTube (que tirou os programas de Rogan do ar). O fato é que, se falasse sozinho, já seria errado divulgar notícias falsas sobre a pandemia – mas o humorista é dono de uma impressionante audiência de cerca de 11 milhões de pessoas por episódio – muitos deles com mais de três horas de duração.

    Nesta quarta-feira, 2, Rogan ganhou um inconveniente e para lá de previsível aliado. O presidente Jair Bolsonaro saiu em sua defesa, alegando que o humorista estava tendo sua liberdade de expressão cerceada. Vale lembrar que Bolsonaro desde o início da pandemia se posicionou contra a vacinação, defendeu medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença e promoveu aglomerações. Em seu Twitter, em inglês, o presidente brasileiro escreveu: “Eu não tenho certeza o que o @joerogan pensa sobre mim ou sobre meu governo, mas não importa. Se a liberdade de expressão significa alguma coisa, significa que as pessoas deveriam ser livres para dizer o que elas pensam, não importa se eles concordam ou discordam de nós. Defenda seu território! Abraços do Brasil.” A “liberdade” que Bolsonaro defendeu para Rogan inclui levar ao programa, para uma entrevista, um controverso virologista chamado Robert Malone, que afirma de maneira quase delirante que governantes de vários países hipnotizaram suas populações para induzi-las a uma psicose coletiva em relação ao vírus.

    A insistência do Spotify em manter o podcast de Rogan no ar, no entanto, tem razões bem mais comerciais que nobres. Sozinho, o podcast alcança audiência infinitamente maior que a das músicas de Neil Young e companhia – e produz, sobretudo, um ativo valioso: tempo de uso. Quanto mais tempo seus usuários ficarem ouvindo coisas na plataforma, melhor para a empresa. Na lógica do Spotify, em suma, mais vale perder alguns ouvintes de um folk rock antigo feito por ídolos do passado do que abrir mão da audiência de um podcast com milhões de fãs.

    A médio prazo, contudo, o acerto dessa opção é duvidoso. Ao ficar do lado de Rogan, o Spotify sofreu um abalo de imagem – e imagem é tudo nos negócios da era da internet. Os investidores estão vendo os papéis da empresa derreterem. Nos últimos dias, a plataforma perdeu 2,9 bilhões de dólares (cerca de 15 bilhões de reais) em valor de mercado, colocando a empresa numa sinuca de bico.

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