Regina King faz história em estreia como diretora no Festival de Veneza
Atriz lançou ‘One Night in Miami’, tornando-se a primeira mulher negra a dirigir um filme exibido no evento
A atriz Regina King fez a sua estreia como diretora de cinema de forma luxuosa: no Festival Internacional de Veneza. Exibido fora de competição, o longa One Night in Miami mostra uma versão ficcionalizada de um encontro entre o boxeador Muhammad Ali, o ativista Malcolm X, o cantor Sam Cooke e o jogador de futebol americano Jim Brown. A produção é a primeira da história do evento italiano dirigida por uma mulher negra, um marco histórico para Regina.
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Clique e Assine“Como esse filme vai se sair pode abrir ou fechar portas para outras diretoras negras. É assim que as coisas funcionam. Uma mulher recebe uma chance e se as coisas não vão bem, demoram anos para outra receber uma nova oportunidade”, disse Regina em coletiva de imprensa via videoconferência. Por causa da pandemia, a equipe do filme não pode viajar até Veneza. “Todos podem ‘mutar’ os seus microfones, por favor?”, pediu com muito jeitinho a diretora logo no início da chamada, quando era possível ouvir uma criança no meio da conversa — dilema comum da pandemia e suas reuniões virtuais.
O roteiro é baseado na peça homônima do jornalista Kemp Powers. O americano soube do encontro que aconteceu entre os quatro astros por um único parágrafo no livro Redemption Song: Muhammad Ali and the Spirit of the Sixties, publicado em 1999 por Mike Marqusee. “Para mim, foi como descobrir a versão negra dos Vingadores”, Powers contou à imprensa do Festival. “Era apenas um parágrafo do livro, mas fiquei interessado em como esses quatro homens se conheciam.” Depois do sucesso da peça, que estreou em 2013, o jornalista escreveu o roteiro para o longa. Regina King, que ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2019 por Se a Rua Beale Falasse, e agora concorre a sua quarta estatueta no Emmy, pela minissérie Watchmen, ocupa também a produção executiva do filme.
Na trama, definida por Regina como “uma carta de amor às experiências dos homens negros”, os quatro personagens se encontram após Muhammad Ali (que ainda era conhecido como Cassius Clay, interpretado aqui por Eli Goree) vencer Sonny Liston em 1964. Durante a comemoração da vitória em um quarto de hotel na cidade de Miami, os protagonistas engatam em conversas sobre ativismo, carreira e religiosidade. Ali estava prestes a entrar para a Nação do Islã, grupo político e religioso, do qual Malcom X (vivido por Kingsley Ben-Adir) também fez parte.
“O que eles têm em comum é serem homens negros, que serão julgados pela cor da pele, independente de quanto dinheiro ou educação tenham”, resumiu King. A produção foi gravada em novembro de 2019 e a diretora revelou que pensou em adiar a estreia, devido à pandemia. No entanto, a decisão de manter a data veio com a onda de protestos contra a violência policial sofrida por negros nos Estados Unidos nos últimos meses.
“Não sabíamos que estaríamos nesse momento poderoso que estamos vivendo agora. Talvez nós tenhamos a sorte de ser uma obra de arte que move a agulha na conversa para uma mudança realmente transformadora”, ela declarou.