A indústria do entretenimento está se reerguendo após um ano difícil em decorrência da pandemia — mas os esforços para recuperar as perdas no cinema e no teatro estão sendo ameaçados graças à variante ômicron. Com vacinação avançada, mas também já sendo atingido pela nova cepa do vírus, o Reino Unido se converteu em um laboratório das idas e vindas da abertura – e o setor observa o que ocorre lá com atenção. Nesse momento, a situação na terra da rainha Elizabeth II é paradoxal: ao mesmo tempo em que o país vê bons resultados de bilheteria com filmes como Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, o aumento dos casos de Covid-19 tem trazido consequências negativas, como o fechamento de peças de teatro em West End, além do medo dos distribuidores acerca dos próximos lançamentos no cinema.
Nesta semana, as peripécias de Peter Parker no multiverso fizeram o longa se tornar a melhor estreia da pandemia no Reino Unido e na Irlanda ao abocanhar 7,6 milhões de libras, o equivalente a 57,2 milhões de reais. O filme da Marvel conseguiu superar James Bond e o lançamento de 007: Sem Tempo Para Morrer no país, que fez 6,6 milhões de dólares (37,5 milhões de reais).
Apesar de ter lotado as salas de cinema e gerado números gordos em bilheteria, fazendo a felicidade dos exibidores, o lançamento do novo Homem-Aranha veio em um momento delicado. A estreia de Sem Volta Para Casa foi um dia de recordes — para o bem e para o mal. O longa tornou-se o maior lançamento do país no mesmo dia em que foi registrado um recorde no pico de casos de Covid-19 em função da ômicron, que possui rápida disseminação e promoveu um aumento de 10 000 para 88 376 novas infecções diárias.
Mesmo com o sucesso do filme, os distribuidores de cinema permanecem temerosos com o futuro dos próximos lançamentos — que, no Reino Unido, já tiveram algumas alterações. O filme Operação Mincemeat, drama baseado em uma história real e protagonizado por Colin Firth, foi movido pela Warner Bros. de 14 de janeiro para 22 de abril. Os filmes da temporada do Oscar 2022 que estão chegando também são motivo de alerta. “Estou preocupado com Belfast ”, apontou um executivo do elogiado longa de Kenneth Branagan, que estreia no país em 21 de janeiro. Nem mesmo a pepita de ouro da Netflix, The Crown, escapou da variante ômicron. Nesta sexta-feira 17, anunciou-se que as gravações da 5ª temporada da série foram encurtadas em um dia, depois que membros da equipe testarem positivo para a Covid-19.
A situação alarmante já está sendo sentida também em setores como o teatro. Nesta semana, espetáculos recentes como Cabaret, protagonizado por Eddie Redmayne e Jessie Buckley, tiveram que ser cancelados após casos de Covid-19 dentro da equipe. O West End, a “Broadway britânica”, voltou a exigir o uso obrigatório de máscaras. As exibições do sucesso musical Hamilton também tiveram de ser canceladas depois que o protagonista, Karl Queensborough, testou positivo para a doença. Na fileira de peças afetadas pela ômicron estão O Rei Leão, A Vida de Pi e Cinderela, de Andrew Lloyd Webber. Segundo a agência de teatro SeatPlan, ouvida pelo jornal americano The Hollywood Reporter, houve uma queda de 30% nas vendas de ingressos na noite em que a variante ômicron foi declarada perigosa.
As próximas semanas dirão se o destino que aguarda o entretenimento no Reino Unido na virada de 2022 será a euforia da retomada – ou o pânico da ômicron.