A indústria cinematográfica viu sua história se dividir entre antes e depois de 2017. Foi neste ano que o Oscar cometeu a pior gafe da sua história, ao errar o anúncio do vencedor de melhor filme. O período também marcou o fim de décadas de silêncio sobre os casos de abuso sexual que se passam nos bastidores da indústria. As bilheterias refletiram toda essa movimentação, com uma renda fraca, que só não foi pior graças a uma princesa que se apaixona por uma fera e a uma heroína por muito tempo subestimada pelos grandes estúdios.
Confira abaixo os casos que mexeram com Hollywood em 2017:
E o Oscar vai para… não, pera
A 89ª edição do Oscar entrou para a história por muitos motivos. Mas o momento que ficará na memória foi a gafe cometida na entrega da categoria de melhor filme. Ao apresentar o vencedor, Warren Beatty estava com o envelope errado. Assim, em vez de anunciar o Oscar para Moonlight, ele deu prêmio para La La Land. A produção do musical foi informada sobre o erro quando comemorava o troféu, radiante, no palco da premiação. Descobriu-se mais tarde que o responsável pela confusão estava distraído, postando uma foto de Emma Stone no Twitter, enquanto Beatty recebia uma cópia do envelope que anunciava a estrela de La La Land como melhor atriz. Para além da bagunça, o Oscar 2017 foi o primeiro a premiar um filme de temática LGBT na categoria principal e o que viu o maior número de negros vencedores em uma cerimônia.
Ativismo político na era Trump
As celebridades tomaram posição após a vitória de Donald Trump. Críticas inundaram as redes sociais e os programas de TV, especialmente os humorísticos, chegando às premiações. O Globo de Ouro, o prêmio do Sindicato dos Atores de Hollywood (SAG) e o Oscar foram palco para discursos acalorados contra o magnata de topete. A fala mais marcante veio de Meryl Streep, homenageada no Globo de Ouro, que atacou a caça do presidente a estrangeiros, após a medida que barrava a entrada de pessoas oriundas de países mulçumanos. Meryl incomodou Trump, que foi ao Twitter chorar suas mágoas. “Meryl Streep, uma das atrizes mais superestimadas em Hollywood, não me conhece, mas me atacou ontem à noite no Globo de Ouro”, escreveu o presidente. No Oscar, Jimmy Kimmel fez piadas sobre o tuíte logo no monólogo de abertura. “Estamos aqui para honrar ótimos atores, mas também aqueles que parecem ótimos, mas que não são. Uma em particular sobreviveu ao teste do tempo com sua atuação sem sal e superestimada. Meryl Streep tem nos enganado por mais de 50 filmes de sua carreira medíocre”, disse o apresentador antes de pedir por aplausos “que ela não merece”. Ela, então, foi ovacionada.
Festival de Cannes x Netflix
Em maio, o Festival de Cannes se estranhou com a Netflix, rixa que causou uma mudança nas regras do evento: para concorrer à Palma de Ouro, um filme agora deve obrigatoriamente ser exibido nos cinemas da França antes de chegar ao catálogo do serviço de streaming. O problema é que a regulamentação do país diz que um longa em cartaz só pode ir para um site de streaming após três anos, o que naturalmente é refutado pelo canal online. A discussão foi atravessada por ruídos, com informações desconexas. Como disse a Netflix mais tarde, a empresa não é contra os cinemas, mas faz questão de exibir as suas produções ao mesmo tempo no streaming e nas grandes telas – como costuma fazer em algumas poucas salas que topam o esquema nos EUA. Christopher Nolan saiu em defesa do festival, dizendo que a Netflix é uma moda passageira, e Pedro Almodóvar, presidente do júri em Cannes em 2017, também atacou o site. Por fim, Okja, de Bong Joon-ho, e Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe, de Noah Baumbach, não ganharam nenhum prêmio, mas seguiram o roteiro previsto pela plataforma de streaming e estão há meses disponíveis nos países em que ela atua. O vencedor da Palma de Ouro, The Square, ainda segue no circuito de festivais. No Brasil, ele está previsto para chegar em janeiro.
Casos de assédio
Em outubro, o jornal The New York Times abriu a Caixa de Pandora de Hollywood ao relatar casos de assédio sexual protagonizados por Harvey Weinstein, um dos produtores mais poderosos do meio cinematográfico. A má fama de Weinstein era antiga, mas a vista grossa era forte por parte dos demais colegas de profissão e também da mídia, que mantinha um bom relacionamento com o empresário. A queda de Weinstein ganhou peso quando nomes como Angelina Jolie, Lupita Nyong’o e Gwyneth Paltrow reforçaram as denúncias. Com o escândalo, muitas outras mulheres e homens tomaram coragem para narrar episódios de assédio. No momento, a lista engloba nomes como os atores Kevin Spacey, Ed Westwick, Dustin Hoffman e Louis CK, os produtores James Toback e Brett Ratner e o fotógrafo Terry Richardson.
Bilheteria em baixa
Até o meio de novembro, Hollywood amargava o seu pior ano em bilheteria em uma década, com uma queda de 16% em relação a 2016. A esperança está agora depositada na estreia de Liga da Justiça e em Star Wars: Os Últimos Jedi – para chegar perto da marca arrecadada nos dois anos anteriores, os filmes precisam fazer mais de 1 bilhão em bilheteria cada um. A decepção se deve a uma leva fraca, agravada por uma possível mudança de hábito dos espectadores, que hoje têm outras plataformas para consumo de filmes — e têm boas séries na TV. Ficaram abaixo das expectativas as superproduções Transformers: O Último Cavaleiro, A Múmia, Alien: Covenant e A Grande Muralha. Também perderam dinheiro títulos de qualidade como Blade Runner 2049 e Rei Arthur: A Lenda da Espada.
Mulheres ricas
Enquanto debatem seu espaço em Hollywood, lutando por melhores salários e expondo casos de assédio, as mulheres mostram sua força na bilheteria. Em um ano fraco, dois filmes com protagonistas femininas se estabeleceram como os mais rentáveis nos Estados Unidos. A Bela e a Fera, com Emma Watson, é até o momento o longa mais visto no mercado americano e no mundo em 2017. Mulher-Maravilha ficou com o segundo lugar nos cinemas dos EUA.