Um dos mais gregários e apaziguadores integrantes dos Beatles, o baterista Ringo Starr, de 81 anos, faz jus à letra de With a Little Help From My Friends, do álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, de 1967. Boa praça, Ringo tornou-se, de fato, um amigão de praticamente todos os músicos do rock. Sim. Todos mesmo. Não por acaso, dezenas de artistas diferentes já passaram por sua banda a All Starr Band com a qual ele costuma excursionar pelo mundo. Isolado pela pandemia, Ringo passou a fazer intermináveis videoconferências com os tais amigos. Nesta sexta-feira, 24, ele lança o segundo EP da carreira, produzido em seu estúdio caseiro, o Roccabella West, após esses encontros virtuais. Intitulado Change The World, o trabalho é uma espécie de celebração do retorno à vida normal pós-pandemia.
O EP traz a faixa inédita Let’s Change The World, escrito pelos integrantes da banda Toto, Joseph Williams e Steve Lukather, além de outras três faixas, todas repletas de participações especiais. “Metade do mundo está pegando fogo e a outra metade está debaixo d’água. Gostaria de mudar o mundo para as crianças. Pergunto-me se os políticos têm filhos”, disse Ringo durante uma coletiva virtual, nesta quarta-feira, 22, acompanhada pela reportagem de VEJA. Este segundo EP funciona como um antagonista do primeiro, Zoom In, lançado em março deste ano, cujo título faz graça com o nome do famoso aplicativo de conversas e teve a participação de astros já calejados como Joe Walsh e Paul McCartney, até novíssimos talentos da música, como a cantora britânica Yola, o guitarrista Eric Burton (do Black Pumas) e Finneas (produtor musical e irmão da Billie Eilish).
Ringo assina no EP o reggae Just That Way e capricha na bateria do rock Coming Undone, parceria com Linda Perry, do 4 Non Blondes. O ritmo jamaicano, aliás, é uma seara musical já explorada com maestria por seu filho, Zak Starkey, dono do selo musical Trojan Jamaica. Na faixa, ele conta com a participação de mestres do reggae, como o guitarrista Tony Chin e o baixista Fully Fullwood. “Sempre gostei de reggae, desde que ele evoluiu do calipso. Vivi bons momentos na Jamaica. Ter a participação de artistas jamaicanos me dá ainda mais força. Estou aqui para me divertir”. O trabalho é arrematado com um delicioso cover de Rock Around The Clock, de Bill Haley & His Comets, música que inspirou Ringo a tocar rock and roll. “Me lembro da primeira vez que ouvi essa música como se fosse ontem. Eu pensei: quero fazer isso pelo resto da vida”.
Quando os Beatles acabaram, Ringo tinha apenas 31 anos e poderia ter se aposentado. Mas, assim como todos os ex-integrantes, ele continuou fazendo rock and roll pelo resto da vida, mesmo agora, aos 81 anos. Em todos esses anos, nenhuma banda, contudo, conseguiu superar os Beatles, segundo o próprio. “Eu não diria que os Beatles mudaram a história do rock. Para mim, eles mudaram a história da música. Os Beatles escreviam e gravavam todas as músicas. E sabe o que eu mais amo ainda hoje? Os Beatles ainda estão aí. Fizemos boas músicas”, contou.
Ringo comentou ainda sobre a morte do amigo, o baterista dos Rolling Stones, Charlie Watts, em 24 de agosto, e relembrou uma história maravilhosa envolvendo também o baterista do Led Zeppelin, John Bonham, morto em 1980. “Watts era muito divertido e também tinha uma banda difícil que precisou manter junta”, disse ele sobre a personalidade apaziguadora de Watts. “Certo dia, nos encontramos nós três em minha casa, em uma festa. Então Bonham começa a tocar, mas não tinha um palco. Em certo momento, estamos eu e Charlie segurando o bumbo para que Bonham pudesse tocar. Daria um ótimo vídeo para o TikTok, mas eram os anos 1970 e você não vai encontrar nenhuma foto. Charlie foi um grande ser humano.”
O baterista encerrou a entrevista comentando sobre o documentário Get Back, dirigido por Peter Jackson. O cineasta que teve acesso a 56 horas de filmes inéditos dos bastidores da gravação do álbum Let It Be. O filme tem previsão de estreia para novembro na Disney+, dividido em três partes com seis horas de duração total. “Fomos abençoados por Peter Jackson ter assumido esse projeto”, disse Ringo. “Sempre reclamei que o clássico documentário de Michael Lindsay Hogg não fazia jus ao que acontecia nos estúdios. Ele não mostrava a alegria real daquelas gravações. Não lembrava que o último show que os Beatles fizeram no telhado da Apple tinha sido tão bom”, afirmou o baterista comparando o documentário lançado na época por Hogg com este novo, feito por Jackson. “As seis horas de documentário não serão suficientes para mostrar tudo. Passamos por altos e baixos emocionais para chegar até aqui. Eu adorei o resultado final e o Peter Jackson é o nosso herói.”