Scarlett Johansson a VEJA: “Coisas que eram aceitas não são mais”
Em videoconferência com VEJA, atriz falou sobre 'Viúva Negra'
Foi uma surpresa ver um lado mais emotivo da Viúva Negra numa trama de família. Como nasceu a ideia? Kevin (Feige, chefão da Marvel) falava que queria um filme sobre uma família. Eu não conseguia enxergar essa história, já que a personagem é solitária, uma órfã. Mas todos temos algum tipo de família, e problemas ou relacionamentos complicados com parentes. Foi desafiador acertar o tom, mas deu certo. É um filme com muito coração, algo raro nesse gênero de heróis.
Por anos, você foi a única representante feminina no universo dos heróis no cinema. Há mais espaço para as super-heroínas hoje? Acredito que estamos longe do ideal, é o meio do processo. Ainda estamos pavimentando o caminho de algo com que comecei a lidar há dez anos. Vivemos numa atmosfera social diferente: coisas que eram aceitáveis agora não são mais. Só posso esperar que esse filme seja mais uma peça importante nessa evolução que não pode parar.
Recentemente, você disse que a Viúva Negra foi “hipersexualizada” no filme que a levou ao cinema, Homem de Ferro 2 (2010). Por que aquele retrato passou a incomodá-la? Vemos hoje um movimento forte de valorização e empoderamento das mulheres. Começar em um lugar e ser capaz de sair melhor do outro lado é recompensador. Não daria para fazer esse filme há dez anos, seria bem diferente, mais superficial. Estou orgulhosa da disposição da Marvel em evoluir nessa jornada junto comigo.
Filmes de super-heróis costumam ser um reflexo do tempo no qual eles são feitos. Que tipo de mensagem Viúva Negra traz? É um filme impactante que fala sobre as escolhas que fazemos versus as que são feitas por nós. A trama reflete discussões atuais sobre consentimento e autonomia da mulher. Também é uma história sobre redenção e a importância de perdoar a si mesmo por erros do passado. A família da Viúva Negra é formada por pessoas que não são moralmente justas, ou de caráter irrepreensível. Elas são humanas e falhas. Não são super-heróis. Elas perseveram, são resilientes. É uma mensagem poderosa: o herói que o salvará é você mesmo.
Viúva Negra morreu em Vingadores: Ultimato (2019), mas isso nem sempre é definitivo no mundo dos heróis. Alguma chance de a personagem voltar? Olha, acho que aquela morte foi bem definitiva. Foi o fim. Eu já sabia que ela morreria há um tempo. Não imagino um retorno da Viúva Negra ao universo dos Vingadores.
Como se sentiu com esse adeus? Foi uma mescla de sentimentos. É claro que fiquei triste de não ser mais parte de uma equipe que se tornou uma família. Adorei interpretar a Natasha. Tenho uma enorme compaixão pela história dela e será melancólico para mim não passar mais tempo em seu figurino. Mas me sinto muito satisfeita pelo modo como honramos sua história nesse novo filme. Foi uma bela despedida.
Publicado em VEJA de 7 de julho de 2021, edição nº 2745