Alheio às minúcias do candomblé, o noveleiro João Emanuel Carneiro não sabe se é filho de Xangô ou de Obaluaiê. “Já me falaram dos dois. Não tenho certeza”, diz. De uma coisa, o filho de orixás desconhecidos nunca teve dúvida: antes de escrever uma novela que retrata a Bahia de todos os santos, era prudente entender-se com as entidades locais. No fim do ano passado, enquanto desfrutava uma temporada em Salvador para entrar no clima de Segundo Sol, a trama do horário das 9 de sua autoria que estreia na segunda, 14, na Globo, Carneiro foi a um ritual no Gantois, o terreiro mais famoso da cidade.
A novela trata de personagens que buscam uma segunda chance na vida. O mocinho Beto Falcão (Emilio Dantas) fará um cantor de axé dado como morto em um acidente de avião, em 1999. Como ninguém sabe que ele sobreviveu, Beto, cuja carreira até então estava em decadência, passará a curtir em segredo a explosão das vendas de seus CDs, provocada pela comoção com o acidente.
É também uma segunda chance para João Emanuel Carneiro, que patinou com a novela anterior, A Regra do Jogo, distante do sucesso de Avenida Brasil. Mas a batalha já se inicia árdua. A artilharia nas redes sociais começou bem antes da estreia. Tão logo se anunciou que retrataria a Bahia, atores “da terra” reivindicaram mais espaço. Na semana passada, a escalação ensejou debate sobre cotas raciais na TV: Segundo Sol incorreria em discriminação ao valer-se de atores brancos para representar uma cidade de população majoritariamente negra. De fato, sete em cada dez habitantes de Salvador declaram-se negros ou pardos, e apenas meia dúzia dos trinta personagens centrais (ou 20% do total) são negros.
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