Série ‘Get Back’ transforma fãs de Beatles em espectadores privilegiados
Em série documental que estreia nesta quinta-feira 25 no Disney+, Peter Jackson retrata bastidores da gravação de 'Let It Be', último álbum dos Beatles
Nesta quinta-feira, 25, após 51 anos da separação dos Beatles, a história da gravação do último álbum da banda, transcorrida em janeiro de 1969, está prestes a ser revista. Dirigida por Peter Jackson, estreia na Disney+ a minissérie documental Get Back, dividida em três episódios de mais de 2 horas cada. Nela, Jackson se surpreende ao descobrir que aquele período registrado pelo cineasta Michael Lindsay-Hogg não foi o inferno que todos acreditavam ter sido. Sim, ocorreram discussões, mas na maior parte do tempo o que se via eram quatro amigos se divertindo fazendo música. “John Lennon era um pateta”, disse Jackson em entrevista à VEJA.
Em 2 janeiro de 1969, dois meses após o fim das gravações do Álbum Branco, os Beatles – então a maior banda de rock do mundo – já estavam de volta ao trabalho com um projeto audacioso: fazer dois shows ao vivo depois de um hiato de três anos e um novo álbum. Com dinheiro sobrando, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr alugaram um imenso galpão dos estúdios de Twickenham, em Londres, onde se deixariam filmar por Lindsay-Hogg enquanto compunham as canções e planejavam as novas apresentações.
No final, deu tudo errado. Em meio a intermináveis brigas, os Beatles não gostaram de Twickenham e migraram para o apertado estúdio da Apple, na rua Saville Row. Já o grande retorno da banda ao vivo se transformaria em uma improvisada apresentação no teto do edifício. No ano seguinte, em abril de 1970, após divergências comerciais, a banda se separaria definitivamente. De posse de dezenas de horas de vídeo dos bastidores daquelas gravações, Lindsay-Hogg percebeu que tinha ouro puro em suas mãos e transformou seu documentário numa espécie de registro oficial do fim do grupo, em que mostrava apenas as imagens de brigas e discussões entre os integrantes.
Dividida em três partes, a nova série documental de Jackson mostra que a realidade não foi tão áspera assim. O primeiro episódio enfoca as gravações em Twickenham, o segundo retrata as gravações em Savile Row e, finalmente, no terceiro episódio é mostrado o show na íntegra no topo dos estúdios Apple. As imagens completas deste show, embora conhecidas, nunca haviam sido divulgadas oficialmente. Além disso, Jackson usou toda a expertise adquirida no documentário Eles Não Envelhecerão (2018), em que restaurou em alta definição as imagens da I Guerra Mundial, para também restaurar as gravações originais de Lindsay-Hogg.
Nos 40 minutos da série a que a reportagem de VEJA assistiu antecipadamente, o que se viu, de fato, foram os integrantes em plena efervescência criativa. Não há no documentário, no entanto, nenhuma entrevista ou explicação do que ocorre. As imagens são apresentadas de maneira bruta, com pouquíssimas intervenções de edição. A sensação é a de ser um espectador privilegiado – ou, como disse Paul McCartney recentemente, uma mosca na parede acompanhando de perto o álbum sendo gravado.
Logo no início, John, Paul, George e Ringo surgem compondo Dig a Pony, enquanto Harrison mostra os primeiros acordes de sua música solo Let It Down. Há ainda uma cena em que McCartney assume uma postura de liderança e se reúne com os produtores para comentar da acústica do galpão e entender como seriam as gravações. Em Savile Row, é possível acompanhar o trabalho do pianista Billy Preston, que surge se divertindo tocando músicas como Let It Be, I’ve Got a Feeling e One After 909.
O escritor francês André Gide (1869-1951), prêmio Nobel de literatura, afirmou no livro Os Moedeiros Falsos que “nenhuma obra-prima jamais foi feita por várias pessoas juntas”. Assistir ao surgimento de icônicas canções como Let it Be, Across The Universe e The Long and Winding Road, prova que sim, é possível.
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