O gabinete do vereador Fernando Holiday, integrante do MBL (Movimento Brasil Livre) eleito pelo DEM, que recebeu há duas semanas a companhia Teatro Oficina, tinha, digamos, um easter egg – aquela surpresinha escondida em filmes e séries que carrega uma espécie de mensagem subliminar – para o grupo de José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso. Um dos computadores da equipe de Holiday, pressionado no encontro para fazer avançar na Câmara dos Vereadores o projeto de criação do Parque do Bixiga, tinha como fundo de tela uma foto de Silvio Santos recebendo dinheiro das mãos de Michel Temer.
A imagem é de janeiro deste ano, quando Temer foi ao Programa Silvio Santos, no SBT, fazer campanha pela Reforma da Previdência. O apresentador se mostrou um apoiador da reforma, um aliado de Temer. Já do Oficina Silvio Santos é um velho antípoda. Dono dos terrenos que rodeiam o teatro, o empresário planeja construir ali três edifícios de cem metros de altura para comercializar unidades residenciais. A companhia pleiteia o espaço para criar um parque público, proposta que já fazia parte do projeto da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, responsável pela última grande reforma realizada no Oficina. Ela morreu antes de reinaugurar o prédio. Silvio Santos se recusa a negociar os terrenos, hoje vazios.
O edifício do Teatro Oficina é tombado e tanto o grupo como arquitetos e intelectuais veem no projeto de Silvio Santos uma ameaça à sua vista e à sua relação com o entorno, o bairro, a cidade. Dois órgãos de defesa do patrimônio, no entanto, mudaram seu entendimento sobre a questão e deram aval para o empreendimento da Sisan, o braço imobiliário do Homem do Baú.
No encontro – você pode ver na íntegra o registro feito pelo Teatro Oficina, abaixo –, Holiday se mostrou contra a ideia do parque. Primeiro, lembrou a já lendária reunião entre Zé Celso, Silvio Santos e João Dória, que na ocasião disse que a prefeitura não tinha dinheiro para o parque. Depois, afirmou ver na iniciativa do Oficina uma ameaça à propriedade privada. “É um caminho perigoso para São Paulo e para o Brasil relativizar a propriedade privada dessa maneira.” Por fim, admitiu ter receio de que o Parque do Bixiga contribuísse para a difusão de “uma atividade cultural com a qual a gente não concorda”, no que foi acusado de censura por uma atriz da companhia.
Zé Celso, que já havia cantado para ele uma versão do Soneto do Olho do Cu, de Rimbaud e Verlaine, parte de uma peça da companhia que horrorizou Holiday, assistiu a esse embate em silêncio. O encontro foi intermediado pelo petista Eduardo Suplicy. O projeto do Parque do Bixiga é de autoria de Gilberto Natalini, do Partido Verde.