O que inspira seu novo álbum autobiográfico, Livre? A vida. No ano passado, muita coisa estava se resolvendo, a separação inclusive (ela se divorciou em 2022 do empresário Marcus Buaiz). Pensei em dar uma pausa na música, mas só durou um mês. Não queria falar nas redes sociais ou com a mídia, mas sentia necessidade de escrever sobre esse processo rico que vivi.
E como foi esse período? Eu saí de um lugar de muito medo, cheio de pisar em ovos, e de repente me vi sozinha com a minha vida, de uma forma financeiramente diferente, com os meus filhos, com o meu trabalho. Chamei umas amigas para um retiro de cinco dias na Chapada dos Veadeiros e fizemos cinco músicas. Depois, vieram outras. Eu tinha uma história pra contar.
Uma das canções se chama Livre. Crescer diante das câmeras, como filha de Zezé Di Camargo, atrapalhou sua liberdade? Eu não nasci famosa. Meu pai sempre foi cantor, mas nem sempre com sucesso. Ele estourou quando eu tinha 9 anos, e aí sim comecei a ver nossa vida mudar. O sequestro do meu tio (Wellington Camargo, em 1998) tirou nossa liberdade de andar na rua sem segurança, e tivemos de mudar para fora. Vi minha liberdade sendo tolhida pelo país em que a gente mora, pela violência e falta de privacidade.
Isso se estende a outras situações? Sim. Hoje em dia, todos estamos sujeitos à falta de privacidade. Todo mundo tem uma câmera e um gravador na mão. Ganhamos muito, mas também perdemos muito. Temos de andar segundo um livro de regras de comportamento do bom cidadão. Mas a liberdade também está dentro da gente.
Você já passeou por diferentes gêneros musicais, como se vê hoje? Esse é um rótulo errôneo. Não existem vários estilos na minha carreira. Meus trabalhos têm vertentes do sertanejo, do country, do pop, da música eletrônica e latina. Esses estilos passearam pela minha música, mas eu nunca deixei de cantar pop. Até meu álbum considerado sertanejo, o 33, é muito pop.
E como vê esse rótulo? É um discurso que usaram muito para desmerecer o trabalho. E isso não é justo nem legal. Cantei em inglês, em português, fiz um pop com eletrônica, acústico, sertanejo, mas não fui cantar gospel, pagode, opera, rock. Eu sempre fui pop, mas com linguagens diferentes, porque isso me interessa. Vou começar a me defender, porque a minha discografia não é uma loucura de quem fica pulando de estilo em estilo. Ela tem identidade e coerência.
Publicado em VEJA de 31 de maio de 2023, edição nº 2843