A reação das montadoras ao plano de descontos nos veículos
Pouco tempo de duração e ausência de medidas estruturais: as reclamações do setor automotivo após anúncio de pacote do governo
O projeto oficializado na segunda-feira, 5, de barateamento dos carros dividiu o setor automotivo. Por um lado, os 500 milhões de reais oferecidos pelo governo para os descontos no programa de carro popular devem se esgotar em apenas um mês e beneficiar entre 100 mil e 110 mil unidades, com desconto médio de 4,5 mil reais a 5 mil reais por veículo. Os cálculos são da Anfavea, maior entidade representativa do setor, que queria que a medida durasse, pelo menos, um ano.
Uma fonte do setor ouvida por VEJA, ainda mais pessimista que os cálculos da Anfavea, afirmou que o pacote de incentivo do governo “não vai mudar nada” e que é necessário um controle efetivo da inflação e queda de juros para garantir sustentabilidade nas vendas.
Na manhã desta quarta-feira, 7, a inflação voltou a dar sinais de desaceleração. Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,23%, abaixo da estimativa do mercado, de 0,33%. É o terceiro mês seguido de desaceleração.
Por outro lado, tem quem tenha recebido o pacote do governo com otimismo. “Todo estímulo para o fortalecimento do setor de transporte e logística é bem-vindo”, afirma Gustavo Bonini, diretor institucional da Scania Latin America. “Medidas voltadas à indústria, de modo geral, são importantes para aquecer o mercado e oferecer melhores resultados para a economia”, prossegue.
O programa do governo prevê um desconto de 2 mil até 8 mil reais no preço final de carros. O desconto vai de 1,6% até 11,6% para veículos de até 120 mil reais, percentual ligeiramente maior do que o anunciado por Alckmin em maio, que era de 10,79%.
Para bancar a medida, o governo vai adiantar a reoneração dos impostos federais sobre o diesel. Voltarão a ser cobrados 11 centavos nos próximos 90 dias e os outros 22 centavos a partir de janeiro. Para conceder esse desconto na nota fiscal dos carros, haverá um impacto de 1,5 bilhão de reais nos cofres públicos. São 500 milhões de reais para os carros e mais 1 bilhão de reais para as frotas (700 milhões de reais para caminhões e 300 milhões de reais para ônibus). “Os incentivos para a compra de veículos pesados têm como base tirar de circulação ônibus e caminhões com mais de 20 anos, algo que contribuirá com a preservação do meio ambiente e para a segurança das pessoas. Acredito, portanto, que haverá impacto positivo garantindo avanços na redução de emissões em toda a cadeia produtiva”, completou o diretor da Scania.