Poucas horas após a confirmação da morte do escritor e “guru” do bolsonarismo Olavo de Carvalho, o cineasta Josias Teófilo fez uma ofensiva para recolocar seu documentário sobre a vida do ensaísta no circuito independente de cinema do país. Era manhã da terça-feira, dia 25 de janeiro. Embora Teófilo tenha visto certa resistência de alguns espaços, o empresário André Sturm, diretor do Petra Belas Artes, mostrou-se simpático à iniciativa e resolveu atender ao pedido do cineasta. E assim, desde a última quinta-feira, dia 27, o documentário O Jardim das Aflições figura na programação de um dos principais cinemas de rua de São Paulo. O abrigo ao filme sobre as ideias do filósofo que permeiam o imaginário da chamada extrema-direita brasileira tem rendido ao espaço diversas críticas nas redes sociais e ameaças de boicote por parte de grupos de frequentadores, insatisfeitos com a homenagem prestada à Olavo.
Alocado em uma das principais salas do espaço, com capacidade para 132 espectadores, o filme não tem recebido um público expressivo. O horário da única sessão diária, às 13h30, acaba atrapalhando o alcance. “Para o horário, o filme tem ido bem. Enquanto o meu tinha recebido 20 pessoas na exibição de reestreia, os outros filmes exibidos no mesmo horário tinham três ou quatro pessoas”, diz o cineasta Josias Teófilo. “Para uma sessão no meio da tarde, isso é ótimo”. Em 2017, ano de seu lançamento no circuito comercial, O Jardim das Aflições atingiu um público de 14.840 espectadores, com receita bruta de 272,7 mil reais. Foi o 43º filme brasileiro mais visto nos cinemas naquele ano.
Teófilo refuta as tentativas de boicote ao filme e ao cinema, e diz que a “esquerda” teria muito que o agradecer. “Em vez de fazer boicote, eles deviam me agradecer, e bastante. Eu fui uma das pessoas que mais defendi as leis de incentivo dentro deste governo. E eles não sabem reconhecer isso. Ficam tentando me boicotar e atrapalhar o meu trabalho”, responde. Para Sturm, a exibição do título é uma questão de respeito à democracia. “Eu, pessoalmente, não tenho nenhuma simpatia ao Olavo de Carvalho. Mas a gente exibe filmes de qualquer posição, sobre qualquer opinião. Nos últimos quatro anos, o Olavo teve importância para o país, para o bem ou para o mal. Exibi-lo é uma oportunidade para que as pessoas possam conhecê-lo e até criticá-lo com mais propriedade”, diz ele.
Idealizador de Nem Tudo Se Desfaz, documentário que analisa, pelo olhar da ‘direita’, a ascensão de Jair Bolsonaro no país e que foi pivô de polêmica ao receber autorização da Ancine para captar até 530 mil reais, Teófilo afirma que os boicotes só ajudam a fomentar o alcance de seus filmes. “Tem que ter espaço a todo tipo de filme dentro do cinema. É uma questão de democracia, de convivência com o diferente e do debate público”, diz o cineasta, que defende seu objeto de estudo na sequência. “Olavo é uma figura importantíssima para entender a nova direita e o atual momento do país. Se você quer saber quem foi Olavo, assiste ao filme. Ninguém vai se converter a uma seita por causa disso.”