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Acordo Mercosul-UE vira escudo estratégico contra o ‘tarifaço’ de Trump

Em meio à guerra comercial, produtos europeus enfrentam tarifa de 15% e brasileiros, de até 50%; tratado entre Mercosul e UE ganha força como rota alternativa

Por Luana Zanobia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 ago 2025, 15h02 - Publicado em 1 ago 2025, 14h55

Diante das tarifas impostas pelo presidente americano Donald Trump, países da América Latina e da Europa enxergam no acordo entre os blocos uma possível tábua de salvação. Após mais de duas décadas de negociações, os dois blocos deram um passo decisivo em dezembro do ano passado, ao anunciar, pela primeira vez e formalmente, o acordo. Ou seja, ambos os lados concordaram em avançar na implementação de um acordo de livre comércio entre os dois blocos. No entanto, nada está garantido: o tratado ainda precisa ser formalmente assinado e ratificado por todos os países-membros. É nesse ponto que residem as principais incertezas sobre sua viabilidade.

Ainda assim, cresce a adesão política, inclusive entre nações que antes se opunham ao pacto. Esse progresso ocorre em meio ao retorno de Donald Trump à Casa Branca e à retomada de seu discurso protecionista. Um exemplo é a imposição de uma tarifa de 15% sobre produtos europeus, alíquota que, embora menor que os 30% anteriormente aplicados, ainda representa um entrave significativo ao comércio. A redução foi resultado de um acordo bilateral costurado entre Washington e Bruxelas, mas, mesmo assim, as barreiras tarifárias continuam a limitar o fluxo de bens e a criar incertezas para exportadores europeus.

Juntos, Mercosul e UE reúnem cerca de 718 milhões de pessoas e somam um PIB combinado superior a US$ 22 trilhões, o que torna o tratado uma das maiores iniciativas de livre comércio do mundo. Para o Brasil, o acordo ganha ainda mais importância diante das barreiras comerciais impostas. Embora Washington tenha recuado e mantido a tarifa  de 10% sobre todos os produtos brasileiros, setores estratégicos – como o de café industrializado e o de carnes – sofrerão a  taxa adicional de 40%, totalizando 50% de tarifa. O anúncio final, embora menos severo do que o inicialmente previsto, reforça o ambiente de instabilidade no comércio global e destaca a urgência do Brasil diversificar seus parceiros comerciais. Estimativas do governo apontam que, com a entrada em vigor do tratado, as exportações brasileiras podem crescer 6,7% na agricultura, 14,8% nos serviços e 26,6% na indústria de transformação. No agronegócio, os ganhos estimados são de até US$ 11 bilhões até 2040. Já a indústria deve avançar de maneira mais modesta, com incremento projetado de US$ 500 milhões no mesmo período.

O governo brasileiro estima aumento de 0,34% no PIB do país até 2044, algo como R$ 37 bilhões, além de crescimento de 0,76% nos investimentos e leve redução nos preços ao consumidor. A Comissão Europeia estima um aumento de 15 bilhões de euros no PIB do bloco europeu. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) tem projeções ainda mais otimistas para o Brasil, calculando que o PIB poderá crescer 0,46% até 2040, com exportações acumulando ganhos de até US$ 11,6 bilhões e importações somando US$ 12,8 bilhões até 2034.

Apesar do otimismo renovado, a assinatura oficial do acordo ainda não tem data. O processo enfrenta ritos burocráticos complexos: a chamada “revisão legal” do texto está em andamento e, segundo o Itamaraty, avança “de forma satisfatória”. Após essa etapa, o conteúdo será traduzido para as 23 línguas oficiais da União Europeia e para os dois idiomas do Mercosul (português e espanhol). Só então o tratado poderá ser submetido à ratificação pelos parlamentos dos 31 países envolvidos, uma maratona política em tempos de extrema polarização. Ainda assim, diplomatas e economistas apostam que o clima de incerteza global pode acelerar os trâmites.

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O maior impasse permanece no campo: a oposição ferrenha de agricultores europeus, especialmente franceses e irlandeses, que temem concorrência com produtos latino-americanos mais baratos e com menos exigências ambientais. No entanto, analistas apontam que a nova correlação de forças no tabuleiro global está forçando uma reavaliação interna. Parte da elite política francesa começa a ponderar o custo de manter posições intransigentes diante da perda de protagonismo europeu no comércio internacional, especialmente frente ao novo ciclo de isolacionismo americano.

Para a Europa, cercada por tensões na fronteira com a Rússia, desafios energéticos e a ameaça de um parceiro transatlântico imprevisível, a aliança com a América do Sul pode ser a válvula de escape de que tanto precisa. Afinal, se os Estados Unidos fecham as portas, cabe aos demais países construir pontes.

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