Apesar de auxílios, comércio tem perdas em agosto e cai pelo 3º mês
Setor registrou variação de -0,1% no mês; atividade registra grande volatilidade no retorno após a fase mais crítica da pandemia
As vendas no comércio varejista do Brasil recuaram 0,1% em agosto, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 7. Apesar do resultado próximo da estabilidade, é o terceiro mês consecutivo de taxa negativa, período em que acumulou perda de 2,5%. Neste ano, o setor registrou aumento de 0,5%, e, nos últimos 12 meses, queda de 1,4% – volatilidade que marca o setor após o fim da fase mais crítica da pandemia.
Agosto marcou o início do pagamento do Auxílio Brasil turbinado em 600 reais e dos benefícios para caminhoneiros e taxistas. Já em junho, mês que também registrou queda, havia ainda a liberação de uma parcela de 1.000 reais do FGTS para trabalhadores com carteira assinada e o depósito da segunda parcela do 13º salário para aposentados e pensionistas. A liberação dos auxílios ocorreu após a PEC das Bondades, que furou o teto de gastos em 41,2 bilhões de reais e criou um estado de emergência driblando a lei eleitoral às vésperas da disputa pela reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Os outros recursos (FGTS e 13º salário) foram liberados ou adiantados no primeiro semestre sem prejuízo ao Orçamento.
Com essa gangorra, o resultado de agosto posiciona o comércio no menor nível do ano de 2022. Ainda em termos de patamar, o volume de vendas do comércio se encontra 1,1% acima do nível pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 5,2% abaixo do ponto mais alto da série, em outubro de 2020 – época do pagamento do Auxílio Emergencial de 600 reais que atingiu quase um terço da população.
Apesar da baixa em agosto, as vendas, quando separadas por atividades, não registraram queda generalizada como em julho, mês em que só os combustíveis cresceram. Em agosto, cinco das oito atividades pesquisadas estavam no campo positivo: tecidos, vestuário e calçados (13%), combustíveis e lubrificantes (3,6%), livros, jornais, revistas e papelaria (2,1%), móveis e eletrodomésticos (1%) e hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,2%). Já as atividades com variações no campo negativo foram: equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-1,4%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,2%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-0,3%).
“Neste mês, ficou muito clara a participação da atividade de hiper e supermercados como fator âncora, segurando a variação muito próxima a zero. A atividade pesa cerca de 50% no índice global. Artigos farmacêuticos, com -0,3%, também contribuíram em termos de peso para essa ancoragem”, explica o gerente da Pesquisa Mensal do Comércio, Cristiano Santos.
No varejo ampliado, o crescimento de 4,8% nas vendas de veículos, motos e peças também vem após vários meses de queda. “A atividade caiu 4,5% de maio para junho e 2,7% de junho para julho, então, o resultado de agosto ainda não é suficiente para retomar o patamar anterior a esses dois meses de queda”, explica o pesquisador. Ele acrescenta que esse crescimento no volume também está refletindo em uma queda nos preços dos veículos.
Por outro lado, os materiais de construção tiveram queda de 0,8%. “Houve um forte crescimento após a pandemia, tanto para obras residenciais, num primeiro momento, como para obras maiores, numa segunda onda. Agora, aos poucos, esse crescimento está sendo descontado. A atividade chegou a estar mais de 12% acima do patamar pré-pandemia, e hoje está 1,6% acima”, contextualiza Santos.