“Quero agradecer esse ministro que já é um herói para nós.” Foi assim que João Doria Neto, diretor executivo do Grupo Doria e filho do governador do Estado de São Paulo, fez referência ao ministro da Economia, Paulo Guedes, o convidado mais ilustre do 18º Fórum Empresarial do Lide, organização que reúne alguns dos maiores empresários do país.
André Esteves, presidente do banco BTG Pactual, pediu o microfone para fazer o coro: “A sua avaliação histórica e sobre onde podemos chegar soa como música aos ouvidos. Para fazer referência a outros tempos, nunca antes na história deste país tivemos um ministro da Fazenda com visão tão acertada”. Um ambiente bem menos hostil do que o ministro encontrou na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, na quarta-feira 3, quando foi acusado pelo deputado Zeca Dirceu (PT-PR) de ser “tchutchuca” para os privilegiados do país, enquanto era “tigrão” com aposentados, idosos, agricultores e professores.
Durante quase uma hora, Guedes falou o que aquela audiência mais queria ouvir: prometeu se engajar pela Previdência, fazer privatizações, reduzir e descentralizar o gasto público e promover uma reforma tributária. Foi o caso do Sistema S, as redes de centros culturais e escolas mantidas por sindicatos patronais, a partir de dinheiro oriundo de impostos sobre a folha de pagamento. Guedes voltou a indicar que pretende fazer um corte duro nos valores que o Sistema recebe –e, para a alegria dos empresários, quer reduzir os impostos sobre a folha de pagamento.
“Sobre o Sistema S, quando você recolhe impostos sobre a folha, você destrói empregos. E você vai usar esse dinheiro para o quê? Para educar o filho do trabalhador que você desempregou? É uma função social interessante, mas questionável”, criticou.
E o ministro parecia saber o que tinha que dizer. Em um dado momento, ao iniciar o detalhamento da sua proposta de simplificação tributária, com a unificação de vários impostos em uma única taxa federal sobre valor agregado, o mediador, o jornalista William Waack, interrompeu o titular da Economia e avisou que ele estava respondendo às perguntas da plateia antes que elas pudessem ser lidas a ele. Guedes riu e continuou.
Durante o discurso, o ministro ensejou entender que sua força política está ali: lideranças políticas de centro-direita, em especial o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o próprio Bolsonaro alinhadas ao atendimento das demandas citadas, pedidos antigos que aquela plateia sempre quis ver atendidos e que agora encontrou seu “herói”.
“Então, eu vou ter medo do quê? De tratar com algum desrespeito quem me tratou por mais de seis horas com muito desrespeito?”, relembrando a longa audiência a que se submeteu na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados.
Ao final, teve a resposta positiva: as cercas de 200 pessoas presentes em um centro de convenção na bucólica Campos do Jordão se levantaram e, enfaticamente, aplaudiram Paulo Guedes.