O porta-voz da presidência da República, general Otávio do Rêgo Barros, disse na noite desta segunda-feira, 29, que o presidente Jair Bolsonaro não quer nem intervirá na política de juros do Banco de Brasil. Pela manhã, Bolsonaro pediu, em evento com agricultores na cidade de Ribeirão Preto (SP), que o presidente do banco estatal, Rubem Novaes, diminuísse a taxa de juros para setores do agronegócio.
“O presidente não quer e não intervirá em qualquer aspecto que esteja relacionado a juros dos bancos que estão, em tese, sob o guarda-chuva do governo”, disse o porta voz. “Quando o presidente fez esse comentário, foi em um ambiente muito amigável”, acrescentou.
Mais cedo, durante o Agrishow, evento que reuniu agricultores de todo o país, Bolsonaro disse: “Eu apenas apelo, Rubens (Novaes) —me permite fazer uma brincadeira aqui, né?—, eu apenas apelo para o seu coração, para o seu patriotismo, para que esses juros —tendo em vista você parecer um cristão de verdade — caiam um pouquinho mais. Tenho certeza que as nossas orações tocarão o seu coração”.
A afirmação de Bolsonaro repercutiu no mercado e chegou a derrubar as ações ordinárias —que dão direito a voto— do banco estatal em quase 2%, que, no entanto, acabaram fechando estáveis, com leve alta de 0,04%. Impactos também foram sentidos em outros bancos, já que a dinâmica de mercado obrigaria parte deles a mexer em sua política econômica também. As ações preferenciais do Bradesco, por exemplo, fecharam entre as mais negociadas do dia e apresentavam queda de 1,31%. Já os papéis preferenciais do Itaú caíram 0,8%.
A intervenção na taxa de juros tem um histórico recente. Em 2012, no governo de Dilma Rousseff, a presidência decretou uma redução na taxa de juros de bancos públicos, com o argumento de igualar as taxas nacionais àquelas praticadas no mercado internacional. A medida desagradou ao mercado na época.
Ingerência no Banco do Brasil
Na semana passada, Bolsonaro já havia vetado uma propaganda do Banco do Brasil que estimula a abertura de conta-corrente por meio do aplicativo da instituição financeira e é marcado pela diversidade e juventude dos personagens. O diretor de comunicação e marketing da estatal, Delano Valentim, foi afastado do cargo.
O Banco do Brasil afirmou que o presidente da instituição, Rubem Novaes, concordou com Bolsonaro sobre a necessidade de retirar do ar a peça publicitária. O afastamento de Valentim, que está de férias, foi um “consenso”, segundo o banco, que não informou o motivo do veto presidencial à campanha, que estava no ar desde o início de abril.