Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Arena Corinthians: Hypera Pharma é alvo da Lava-Jato e delação vai ao STF

Empresa é a antiga Hypermarcas, de João Alves de Queiroz Filho, que foi dono de ícones como Arisco, Monange e Doril e que pode fechar acordo de R$ 1 bilhão

Por Diego Gimenes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 29 ago 2020, 09h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Passados quase dez anos das primeiras tentativas e de mais de seis anos após a sua inauguração oficial, o estádio que sediou a abertura da Copa do Mundo de 2014 finalmente vai receber os seus naming rights. O Corinthians prometeu para os próximos dias a confirmação do nome comercial da ainda conhecida como Arena Corinthians, em Itaquera, na Zona Leste de São Paulo. Após muitas idas e vindas e uma enorme desconfiança por parte da torcida, que se acostumou a ver frustradas as promessas dos dirigentes do clube sobre o avanço de negociações em torno da venda do nome do estádio, a expectativa é que o contrato melhore as finanças da agremiação. A Hypera Pharma, maior farmacêutica do país, surge como a favorita para rebatizar a Arena Corinthians. Fontes ouvidas por PLACAR garantem que o acordo já foi concretizado e que, inclusive, a marca escolhida pelo grupo para nomear o estádio será a Neo Química, uma das diversas divisões da empresa que se expandiu com a aquisição de diversas fabricantes de medicamentos brasileiras. A marca já estampou a camisa do time entre 2010 e 2011. Para renomear a Arena Corinthians, a Hypera Pharma deve desembolsar aproximadamente 350 milhões de reais pelo período de 20 anos, cerca de 17,5 milhões por ano. A expectativa é que o acordo seja anunciado em 1° de setembro, data em que o clube comemora 110 anos de existência.

    junior-jpg
    BILIONÁRIO DAS MARCAS: Júnior da Hypera: anteriormente conhecido como Júnior da Arisco, criou um império de marcas famosas do consumidor brasileiro (DIVULGAÇÂO/Creative Commons)

    Andrés Sanchez, presidente do clube, ainda não confirmou o negócio, mas afirmou em sua conta no Twitter que o grupo comprador nunca foi parceiro da equipe, o que — de certa forma — é verdade, em vista que até fevereiro de 2018, a atual Hypera Pharma tinha outro nome e era conhecida como Hypermarcas. A troca de nome aconteceu para firmar uma mudança de rumo do grupo, que passou a apostar exclusivamente no ramo farmacêutico. Em abril daquele mesmo ano, foi deflagrada a Operação Tira-Teima, um desdobramento da Lava-Jato. A Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão para esclarecer a suspeita de participação da empresa no pagamento de propinas a políticos do MDB e do PSDB entre 2013 e 2015. À época, João Alves de Queiroz Filho, fundador do grupo e então presidente do conselho de administração da empresa, pediu licença do cargo. As investigações se arrastam até hoje, e, no último dia 18, o empresário fechou um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), que prevê 1,095 bilhão de reais em multas a serem pagas pelos colaboradores. A decisão de homologar ou não a delação está na mãos do ministro Luiz Edson Fachin.

    Em 2019, o ex-diretor da Hypermarcas, Nelson Mello, chegou a negociar uma delação com a PGR, mas o órgão pediu ao Supremo a anulação do acordo por considerar que o executivo omitiu informações e descumpriu o compromisso de dizer a verdade. À época, Mello afirmou que o pagamento de propinas a políticos teria ocorrido sem conhecimento do então presidente do grupo, o empresário Queiroz Filho. Em fevereiro de 2020, o Ministério Público Federal (MPF) oficializou a denúncia contra o fundador da Hypera Pharma e mais dois ex-executivos da empresa (Carlos Roberto Scorsi e Sílvio Tadeu Agostinho), além do ex-diretor Nelson Mello. A suspeita é de que eles integraram um esquema que favorecia os interesses do grupo no Senado entre os anos de 2013 e 2015. Também de acordo com a investigação, o ex-senador Paulo Roberto Bauer (PSDB-SC), recebeu indevidamente 11,8 milhões de reais. Em maio, a Hypera Pharma divulgou os resultados de um Comitê Especial Independente que a empresa instaurou admitindo que foram encontrados indícios de pagamentos indevidos no valor de 110,5 milhões de reais. À época, o grupo garantiu que os seus atuais administradores não estão envolvidos nas irregularidades apuradas e que vai continuar colaborando com as investigações.

    A Hypermarcas é criação de um dos mais importantes empreendedores do setor de bens do consumo do Brasil, o goiano João Alves de Queiroz Filho, mais conhecido nos meios empresariais como Júnior ou Júnior da Arisco.  Este último apelido por conta do seu primeiro grande sucesso empresarial, o tempero Arisco. Mas, em sua trajetória, Júnior já foi dono de diversas marcas icônicas, como Assolan, Maracugina, Merthiolate, Monange, Doril e, a partir deste ano, também Dramin e Neosaldina. A Hypermarcas surgiu em 2001, com o nome de Prátika Industrial Ltda. A empresa foi fundada pelo empresário João Alves de Queiroz Filho, que decidiu investir no mercado de esponjas de aço com a Assolan.

    Continua após a publicidade

    O império controlado por ele começou a ser erguido pelo pai, em 1969, com a distribuidora do Sal Cometa. Um ano depois, a empresa recebeu a marca Arisco como o pagamento de uma dívida. Com o passar dos anos, o produto ganhou projeção nacional, até que em 2000 foi adquirida pela Bestfoods, que meses depois foi adquirida pela Unilever. Foi com esse dinheiro que no ano seguinte o empresário comprou a marca de palha de aço Assolan. Com a sucesso do produto, que se posicionou para concorrer com a Bombril, a empresa inaugurou um novo centro de distribuição em 2002, localizado em Goiânia, e passou a se chamar Assolan Industrial. Em 2007, o grupo fez três aquisições: a DM Farmacêutica, fabricante de Merthiolate, Monange e Cenoura & Bronze; a Sulquímica, fabricante de Mat Inset e Fluss e a empresa de adoçantes Finn. Ainda em 2007, o grupo passou por uma nova mudança de nome, se transformando na Hypermarcas.

    A abertura de capital na bolsa aconteceu em 2008, com a captação de cerca de 700 milhões de reais. Os recursos permitiram iniciar mais uma rodada de consolidação do mercado. No mesmo ano, a Hypermarcas comprou a Ceil, proprietária das marcas como Bozzano e Aquamarine. Em 2009, foi a vez de comprar a Inal, dos preservativos Olla e Lovetex, além das marcas Jontex, que pertencia à Johnson & Johnson, e Pom Pom, empresa de fraldas. Para fechar o ano, incorporou a Neo Química ao seu portfólio.

    A primeira parceria com o Corinthians foi intermediada por Ronaldo Fenômeno, então jogador do clube, em 2010. O acordo de 38 milhões de reais foi considerado o maior patrocínio a uma equipe do futebol brasileiro até então. O grupo estampou o nome Neo Química Genéricos no peito, Bozzano nas mangas, Avanço nas axilas e Assim nos ombros. O jogador, considerado três vezes o melhor do mundo pela Fifa, teria embolsado cerca de 33% do valor do contrato, o equivalente a 12,5 milhões; os outros 25,5 milhões ficaram o clube. Além disso, o pentacampeão mundial pela seleção brasileira se transformou no principal garoto propaganda do grupo.

    Em 2011, a Hypermarcas passou a desestimular sua área de consumo, tanto que vendeu algumas marcas de limpeza, como Assim, Boa Noite, Fluss e Sim para a JBS. Em dezembro daquele ano, ainda negociou as marcas Assolan, Perfex, Help e outras para a brasileira Ypê e as marcas Etti e Salsaretti para a multinacional Bunge. O desinvestimento teve novo impulso quatro anos depois, com a venda da divisão de cosméticos, que detinha os produtos Bozzano, Cenoura & Bronze, Monange e Risqué, para o grupo francês Coty. Em janeiro seguinte, se desfez das marcas de preservativos Olla, Jontex e Lovetex para a Reckitt Benckiser e, por fim, da área de fraldas descartáveis, que foi para a belga Ontex.

    Continua após a publicidade

    Para se posicionar com maior foco e como a maior farmacêutica de capital nacional, a Hypermarcas aprovou em 2018 a mais recente mudança de nome, passando a ser reconhecida como Hypera Pharma. Em dezembro de 2019, já sob a presidência de Breno Toledo Pires de Oliveira — em vista que os antigos executivos ainda permanecem afastados –, o grupo adquiriu por 1,3 bilhão de reais os produtos da família Buscopan e Buscofem, que pertenciam à europeia Boehringer. Em março de 2020, também foi confirmada a operação de compra de 18 medicamentos da japonesa Takeda por cerca de 4 bilhões de reais. O portfólio inclui as marcas Neosaldina e Dramin além de produtos em áreas como cardiologia, diabetes, endocrinologia, gastroenterologia, sistema respiratório e clínica geral. Com o negócio, considerada a maior aquisição de sua história, a empresa assumiu o posto de maior farmacêutica do Brasil, proprietária de uma extensa linha de medicamentos, como Doril, Engov, Benegrip, Maracugina, Gelol, Epocler Estomazil, Miorrelax, entre outros.

    O grupo obteve lucro líquido de 396,4 milhões de reais no segundo trimestre deste ano, uma alta de 17,6%, na comparação anual. “Esse desempenho foi impactado pelo forte aumento do sell-out (medicamentos isentos de prescrição) no início do mês de março, consequência da corrida dos consumidores às farmácias para compra de medicamentos isentos de prescrição após o início das regras de restrição para circulação da população por conta da pandemia de Covid-19”, informou a empresa em seu relatório.

     

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.