Quinto colocado nas pesquisas de intenções de voto para as eleições presidenciais deste ano, o deputado federal André Janones (Avante-MG) vive momentos decisivos para o futuro de sua candidatura. O advogado mineiro, de 38 anos, tem um encontro marcado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera a corrida presidencial neste momento, em São Paulo, nesta quinta-feira, 4. Dentre os temas a serem discutidos, estão o pagamento permanente do Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família) no valor de 600 reais, com a inclusão de todas as famílias do CadÚnico e o pagamento duplo para mães solteiras no programa. Além disso, também está na pauta a ampliação de programas voltados à saúde mental e a portadores de deficiência. A incorporação de suas principais propostas pelo petista tem sido dadas como a condição para uma provável retirada da candidatura do candidato do Avante.
Autodenominado “fiscal do povo”, Janones ganhou notoriedade ao apontar irregularidades com recursos públicos em Minas Gerais e ao apoiar a paralisação dos caminhoneiros em 2018, sob governo de Michel Temer. Depois de conquistar alcance em redes sociais, elegeu-se deputado federal em 2018 e, agora, vive em seu partido, o Avante, uma situação parecida com a de outras candidatos à Presidência. Em alguns estados, filiados ao Avante declaram apoio a Lula — como também é visível no MDB, de Simone Tebet, e no PDT, de Ciro Gomes — mas Janones diz não se incomodar com isso. Em entrevista a VEJA, o deputado federal falou sobre seus projetos, como o investimento em refinarias como solução para o preço dos combustíveis e a taxação dos mais ricos, e sua opinião no campo das privatizações e da inflação.
O senhor, como deputado federal, votou a favor da ampliação dos gastos públicos com o Auxílio Brasil. Isso não pode prejudicar as contas públicas do país? Eu digo que situações excepcionais exigem medidas excepcionais. Como a gente precisa ser imediatista, eu tive que votar a favor de uma medida eleitoreira do Bolsonaro que só vai até dezembro. Não vai resolver em nada o problema das pessoas, mas vai matar a fome de quem não tem comida na mesa hoje. Eu não tinha como falar para essas pessoas que estão passando fome que não poderíamos aprovar esse aumento porque se trata de uma medida eleitoreira do Bolsonaro.
Mas esse aumento do Auxílio Brasil cria um problema para as contas públicas. Qual é a visão do senhor em relação ao teto de gastos? É uma lei sem efetividade, que cria subterfúgios para inglês ver. Eu acredito que a gente deve buscar meios de dar mais efetividade ao país. Se a gente entender que é possível fazer isso por meio da Lei de Responsabilidade Fiscal, pode ser que ela funcione de uma maneira mais efetiva e seja uma solução mais viável. O teto de gastos é uma camisa de força, que está impedindo o país de se desenvolver. Eu sou peremptoriamente contrário à manutenção do teto de gastos. Não há, no mundo, países que se desenvolvam sem investimento público.
Como o senhor pretende resolver o problema da inflação de alimentos no Brasil? O senhor defende algum tipo de intervenção do governo na taxa de exportações? Eu só sou a favor de intervenções quando estritamente necessárias por parte do Estado. Por isso, não me encaixo nem no espectro da direita nem na esquerda. Eu acredito que, se a gente estimular o pequeno agricultor, que é quem produz dois terços dos alimentos consumidos no Brasil, a gente não precisa nem limitar exportações. Até porque, hoje, quem exporta em grande quantidade é aquele agro “pujante”, é aquele agro que é “pop” e faz show com o Gusttavo Lima todo ano para os deputados. Esse agro não precisa de ajuda do Estado. Mas, se a gente der um pequeno incentivo para a agricultura familiar, eu tenho certeza que a gente consegue atender a demanda do mercado interno com preços baixos.
Como o senhor pretende lidar com o preço dos combustíveis no Brasil? Eu sei que não dá para mudar a política de preços da noite para o dia. Você não chega aperta um botão e deixa a gasolina mais barata. Isso seria algo à lá Bolsonaro, uma medida populista. Minha ideia seria discutir as regras com o conselho. A Petrobras se recuperou de um rombo, ela é superavitária hoje. Então, eu tenho uma proposta a curto prazo e outra a longo prazo. A longo prazo é ideal investir em refinarias. Hoje, a gente não consegue produzir o suficiente para abastecer o mercado interno e tem que importar em torno de 20% por causa de uma falta de investimento em refinarias. A solução é um investimento em refinarias por meio dos dividendos pagos para o governo por meio da Petrobras. No curto prazo, minha ideia é buscar uma nova política de preços que contemple o custo da produção e o preço do barril no mercado internacional.
O senhor defende uma agenda de reformas estruturantes, como a tributária e a administrativa? Qual seria a sua prioridade se fosse eleito? Não temos condições de discutir a reforma administrativa antes de uma reforma tributária. Isso seria brincar com a cara das pessoas e duvidar da inteligência de quem tem o mínimo de conhecimento econômico. E olha que o meu conhecimento econômico é extremamente raso e superficial. É preciso combater os privilégios. Isso pode ser iniciado com uma reforma dos deputados, para combater os altos salários da Câmara. Se a gente não começar a casa pelo telhado é impossível fazer dar certo. Eu sou a favor de uma reforma tributária que tire dos super-ricos e taxe dividendos para ajudar os menos favorecidos. Outra medida que a gente defende é o aumento substancial do ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural).
O ex-presidente Lula fala em revisar a reforma trabalhista. Qual é a sua opinião sobre isso? Nesse aspecto, eu me afasto um pouco mais da esquerda. A reforma trabalhista é muito recente ainda. Acho que ainda não foi possível avaliar se ela surtiu ou não o efeito desejado. O Estado tem de proteger os trabalhadores, de dar condições mais dignas a eles, mas eu entendo que não dá para tirar as pessoas de um trabalho, mesmo que não seja com carteira assinada, e colocar elas no cadastro de desempregados até que surja uma posição com condições melhores. Hoje, a situação não permite que se fale em revogação da reforma trabalhista. Muitas pessoas encontram no trabalho intermitente uma forma de ter condição para colocar comida na mesa. A revisão da reforma trabalhista até é uma causa que eu defendo para o futuro, mas hoje nós não temos condições econômicas para isso.
O governo Bolsonaro acaba de privatizar a Eletrobras. Como o senhor vê esse tema? Olha, eu te confesso que o voto mais difícil no meu mandato até hoje foi o voto relacionado à privatização dos Correios. Foi um voto que eu mudei, na minha cabeça, 30 vezes até segundos antes da votação. Ao analisar o caso dela, acabei decidindo votar contra essa privatização por entender que a empresa tem uma função social para o país. Para mim, a privatização é a última opção. Nunca é o melhor cenário quando você abre mão de um patrimônio público. No caso da Eletrobras, a gente estuda formas de reestatizar a empresa se a gente estiver na Presidência da República.
O senhor se irrita quando o chamam de populista? Eu não consigo enxergar como um modo pejorativo. Quando isso acontece, eu digo que faço um populismo responsável.
Até o momento, a corrida presidencial tem sido protagonizada por Lula e Bolsonaro. O senhor acredita que pode romper isso e chegar ao segundo turno? Eu vou te surpreender com a minha resposta. Mas eu acho que o meu grande diferencial nessa campanha aqui é justamente a sinceridade e o excesso de honestidade. Eu acredito sim, mas não muito. Eu sou pé no chão, tenho total consciência de que a minha candidatura até a presente data não é viável. Minha candidatura não é uma candidatura competitiva. Mas eu acredito muito que ela possa ser, senão eu já teria desistido há muito tempo. Eu sou realista. Vi o Ibaneis Rocha virar governador do Distrito Federal, eu vi o Romeu Zema virar governador de Minas e o Wilson Witsel virar governador de Rio. Então eu tenho absoluta convicção que é possível. Mas também sei que não é o mais provável. O imponderável bate na porta às vezes, mas se batesse em toda eleição ele seria ponderável e não imponderável.