Ausência de reformas e setor externo criam riscos para inflação, diz BC
Comitê não indicou viés de alta ou baixa nos juros, e afirmou que incerteza pede "flexibilidade para condução da política monetária"
A falta de reformas e de ajustes necessários na economia brasileira pode elevar a inflação no curto e médio prazo, segundo o Banco Central (BC). Somada ao impacto do setor externo sobre economias emergentes, a autoridade monetária afirma que os riscos se intensificaram sobre os preços internos. Essas são as conclusões trazidas pela ata de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), após a decisão de manter a taxa básica de juros (Selic) em 6,5%, na última quarta-feira 19.
Segundo os diretores do BC, o que pode compensar esse risco não é um fator positivo. “O nível de ociosidade elevado pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado”, ou seja, a baixa capacidade de a economia do país engrenar é o contrapeso inflacionário. Na prática, a ata aponta para um cenário pessimista: se o país voltar a crescer sem as reformas, a inflação subirá e o Copom se verá obrigado a elevar os juros básicos.
Com tantas incertezas, os membros do Copom avaliam ser preciso dar flexibilidade à política monetária. Assim, preferiram não estabelecer nenhum viés de alta ou de baixa para as próximas reuniões. “Todos avaliaram que o nível de incerteza da atual conjuntura gera necessidade de maior flexibilidade para a condução da política monetária, o que recomenda abster-se de fornecer indicações sobre seus próximos passos.”
Apesar de a inflação, 4,19% em doze meses, estar mais próxima da meta, estipulada em 4,5% para este ano, o Copom ainda entende que, não fossem esses fatores de risco, os juros deveriam cair. “Os membros do Copom ponderaram, entretanto, que se torna importante reforçar o seu compromisso de conduzir a política monetária visando a manter a trajetória da inflação em linha com as metas”, avaliou.
Choques temporários
Um dos motivos para que a inflação tenha se aproximado da meta neste ano, na avaliação dos diretores do BC, foi a greve dos caminhoneiros. No entanto, todos entenderam que o choque de preços provocado pelo desabastecimento já passou e não produzirá maiores impactos para o futuro.
“Todos concordaram que a inflação nos meses de julho e agosto e as projeções para os meses seguintes corroboram a visão de que os efeitos da paralisação no setor de transportes de cargas ocorrida em maio foram temporários”, disse.
Avaliam também que, apesar da alta de alguns preços administrados, o impacto do câmbio sobre a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), tem se mostrado pequeno.
“A intensidade do repasse de movimentos no câmbio para a inflação depende de vários fatores como, por exemplo, do nível de ociosidade da economia e da ancoragem das expectativas de inflação. O Comitê continuará acompanhando diferentes medidas de repasse cambial”, afirmou.