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Banco Central começa a ser questionado por exagero no ‘remédio’

Há um ano, a autarquia era elogiada por elevar a Selic e controlar a inflação. Agora, o cenário se inverteu, colocando o BC em um ponto de inflexão

Por Luana Zanobia Atualizado em 1 ago 2024, 22h26 - Publicado em 1 ago 2024, 13h44
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    Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

     Há exatamente um ano, o Brasil avançava na redução dos juros após ter sido amplamente parabenizado por sua condução rápida e eficaz de elevação das taxas, aplicando um “remédio” necessário para conter a inflação. Naquele momento, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil iniciava um ciclo de cortes na taxa Selic, enquanto o Federal Reserve (banco central americano, Fed) concluía sua última elevação de juros. No entanto, as expectativas mudaram drasticamente. Hoje, enquanto o Fed se prepara para afrouxar suas medidas, o Copom optou por manter a taxa Selic inalterada, sinalizando um cenário de preocupações e incertezas. A eficácia do “remédio” aplicado anteriormente começa a ser questionada. Enquanto as expectativas nos EUA são de redução nos juros, o Brasil vive um momento oposto — e inimaginável há um ano.

    A decisão unânime de manter a Selic em 10,5% ao ano reflete um aumento nas preocupações com a inflação. Gino Olivares, economista-chefe da Azimut BWM, destaca que a mudança no vocabulário do Banco Central, com a utilização da palavra “vigilância”, sugere que aumentos nos juros estão sendo considerados, mesmo que não explicitamente mencionados. Isso revela um cenário de alerta para o mercado, indicando que o Banco Central está preparado para ajustar a política monetária conforme necessário.

    Em entrevista ao VEJA Mercado desta quinta-feira, 1, Paulo Rabello de Castro, ex-presidente do BNDES e do IBGE, levantou suas preocupações com a atual taxa de juros, argumentando que a manutenção de uma Selic elevada, atualmente com um juro real superior a 6% ao ano, é uma “dose cavalar” contra a inflação que pode prejudicar a atividade produtiva. Para Castro, essa política monetária está freando o crescimento econômico do Brasil, que permanece estagnado em torno de 2% ao ano. Um ambiente de juros mais adequados, segundo ele, poderia impulsionar o PIB para uma faixa entre 3% e 3,5%.

    A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também expressou suas preocupações. O presidente da CNI, Ricardo Alban, enfatiza que a Selic elevada encarece o crédito, restringindo a atividade econômica e penalizando consumidores e empresas. Ele argumenta que a retomada dos cortes na Selic é crucial para reduzir o custo financeiro e impulsionar a economia.  “Esperamos que a Selic volte a ser reduzida o quanto antes. A retomada de cortes é fundamental para a redução do custo financeiro suportado pelas empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e pelos consumidores. Caso contrário, seguiremos penalizando não só a economia brasileira, mas, principalmente os brasileiros, com menos empregos e renda”, reforça Alban.

    Mesmo com um possível corte de 0,25 ponto percentual, que levaria a taxa para 10,25% ao ano, o Brasil continuaria a ter uma das maiores taxas de juros reais do mundo. Nesse cenário, a taxa de juros real (que desconsidera os efeitos da inflação esperada para os próximos 12 meses) seria de 6,2% ao ano. “Portanto, estaria 1,5 ponto percentual acima da taxa de juros real neutra – aquela que não estimula nem desestimula a atividade econômica, estimada pelo BC em 4,75% ao ano – sendo compatível com o atual quadro inflacionário” demonstra Alban. A política monetária restritiva eleva o custo de captação de recursos para as instituições financeiras e, somada aos elevados spreads bancários, encarece ainda mais os empréstimos e financiamentos.

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    Um dos fatores que tem justificado o patamar elevado da Selic é a preocupação com a sustentabilidade das contas públicas. Embora o novo arcabouço fiscal seja uma medida relevante, fez com que o cumprimento das metas de resultado primário e o controle da dívida pública passassem a depender fortemente do aumento da arrecadação. “Em um país com uma das maiores cargas tributárias do mundo, essa dependência do aumento de receitas onera ainda mais o setor produtivo e os consumidores, tornando essencial que o ajuste fiscal se concentre na redução de despesas”, diz Alban.

    Recentemente, o governo anunciou bloqueios e contingenciamentos no valor de R$ 15 bilhões no Orçamento, em uma tentativa de equilibrar as contas públicas e cumprir as exigências do novo arcabouço fiscal. Deste total, R$ 11,2 bilhões correspondem a um bloqueio devido a estimativas de gastos que excedem o limite imposto pelo arcabouço. Os R$ 3,8 bilhões restantes são de um contingenciamento, motivado pela arrecadação insuficiente para atingir a meta de déficit zero. No entanto, este valor ainda está aquém dos R$ 30 bilhões considerados ideais pelo mercado.

    Apesar do governo ter demonstrado que busca cumprir a meta de zerar o déficit este ano, o Copom reiterou, segundo análise da Guide Investimentos, a necessidade de um “acompanhamento diligente e ainda maior cautela” na condução da política monetária, sinalizando a manutenção de uma política contracionista por um período prolongado.

    Os riscos dessa manutenção são claros: a alta taxa de juros real pode continuar a restringir o crescimento econômico, aumentar o custo do crédito e penalizar consumidores e empresas. Enquanto o Brasil luta para equilibrar a inflação e o crescimento, a política monetária deve ser cuidadosamente calibrada para evitar danos maiores à economia.

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