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Bolsas quebram recordes no embalo das empresas de tecnologia. Até quando?

Fatores como a guerra comercial Estados Unidos-China e a agenda protecionista de alguns países podem reduzir o ímpeto das ações

Por Tássia Kastner
Atualizado em 3 jun 2024, 17h20 - Publicado em 9 mar 2024, 08h00
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  • No mercado financeiro, diz-se que as bolsas estão em bull market sempre que há uma subida superior a 20% desde a menor cotação recente. A explicação é a de que o touro ataca de baixo para cima, movimento que emula a direção dos gráficos de ações em alta. No dia 1º de março, quando o S&P 500, índice que reúne as 500 maiores empresas listadas na bolsa de Nova York, bateu recorde, sua valorização desde o ponto mais baixo era de 44% — um típico bull market, portanto. Apenas em 2024, até a quarta-feira 6, o avanço foi de 7%. O fenômeno se espalha pelo globo: o pan-europeu Euro Stoxx, o alemão Dax e o japonês Nikkei 225 são exemplos de índices que alcançaram sua máxima histórica nas bolsas nas últimas semanas.

    MIGRAÇÃO - Gráficos da bolsa de Tóquio: muito dinheiro da China foi para lá
    MIGRAÇÃO - Gráficos da bolsa de Tóquio: muito dinheiro da China foi para lá (Tomohiro Ohsumi/Getty Images)

    O que explica o movimento? Nos Estados Unidos, a disparada foi atribuída às “Sete Magníficas”, apelido dado a Nvidia, Amazon, Alphabet (dona do Google), Microsoft, Tesla, Meta (ex-Facebook) e Apple. Embora a empresa da maçã esteja atravessando uma fase ruim, todas elas superam a marca de 1 trilhão de dólares em valor de mercado — a Microsoft ocupa o topo do ranking, avaliada em cerca de 3 trilhões de dólares. Ninguém tem brilhado mais, contudo, do que a Nvidia. O valor das ações da empresa subiu 659% desde a mínima de 2022. Só neste começo de ano, os papéis se valorizaram 71%, tudo porque a fabricante de processadores foi aclamada como a grande vitoriosa da corrida pela inteligência artificial.

    Como não poderia deixar de ser, o avanço tem sido acompanhado pelo temor de uma crise nos mesmos moldes da chamada “bolha da internet”, um fenômeno dos primeiros anos da década de 2000. Na ocasião, as ações das empresas “ponto com” valorizaram-se em ritmo alucinante, mas depois os investidores descobriram que a ascensão era artificial. Algumas companhias que nasceram no embalo da internet faliram e seus acionistas perderam dinheiro.

    FARO - Buffett: megainvestidor antecipou alta das ações negociadas no Japão
    FARO - Buffett: megainvestidor antecipou alta das ações negociadas no Japão (Dennis Van Tine/AP/Imageplus)
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    Há o risco de algo parecido ocorrer novamente? Para William Castro Alves, estrategista-chefe da corretora Avenue, duas diferenças separam os anos 2000 de hoje. A primeira é que o salto atual das ações está ancorado na solidez da economia americana, que continua crescendo a uma taxa de 3% ao ano. O executivo também ressalta que as companhias que impulsionam as bolsas não são promessas, mas negócios bem estabelecidos e com resultados concretos a apresentar. “Os lucros das empresas cresceram e isso gera dinheiro novo que está alimentando o mercado”, diz Alves.

    Há outras explicações para a animação. Na visão do Bank of America, a subida das bolsas se deve à migração de dinheiro dos títulos públicos americanos para ações, em uma antecipação ao inevitável corte de juros. Além disso, investidores têm transferido recursos de países emergentes para mercados desenvolvidos — o que explica as altas na Alemanha e no Japão. As bolsas chinesas e de Hong Kong perderam juntas 7 trilhões de dólares em valor de mercado desde 2021, um reflexo da desaceleração da economia da China, que deve crescer 4,5% neste ano, segundo o FMI. O dinheiro escoou e pode ter ajudado a inflar as ações em Tóquio para um recorde não alcançado desde 1989. Quem puxou a fila foi o americano Warren Buffett, mais célebre investidor do mundo, que disse ter voltado a apostar no mercado japonês em 2019.

    arte bolsa

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    Resta saber quanto tempo a exuberância dos mercados deverá durar. Para analistas, não muito. Fatores como a guerra comercial Estados Unidos-China, a agenda protecionista de alguns países e até o esgotamento das inovações trazidas pela inteligência artificial provavelmente reduzirão o ímpeto das ações — ou seja, a era de ouro pode estar perto do fim. No Brasil, o cenário é bem diferente. O Ibovespa, o principal índice da bolsa brasileira, segue empacado em 2024. Para se ter ideia, os investidores estrangeiros retiraram 18 bilhões de reais da B3 neste ano. Para a corretora XP, a letargia será revertida em breve, especialmente porque a queda da Selic, a taxa básica de juros da economia, vai atrair dinheiro ao mercado brasileiro. Se no exterior teme-se o momento em que o touro vai sumir, por aqui a expectativa é de quando ele vai aparecer.

    Publicado em VEJA de 8 de março de 2024, edição nº 2883

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