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Brasil precisa de mais ambição nas reformas, diz economista

Sociedade terá na campanha eleitoral a oportunidade de discutir os seus principais problemas para que possa transformar o país, diz Monica de Bolle

Por Marcelo Sakate Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 dez 2017, 19h04
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  • Os avanços obtidos na economia brasileira neste ano são insuficientes para as necessidades do país  e não podem encobrir o fato de que a sociedade precisa discutir seus problemas fundamentais, como o desequilíbrio nas contas públicas, a persistente desigualdade e a baixa produtividade. A avaliação é da economista Monica de Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics, um centro de pensamento econômico em Washington. “O Brasil está em um momento de inflexão”, diz Monica. Segundo ela, a campanha eleitoral de 2018 será uma oportunidade única para que os candidatos apresentem suas propostas para reformular a economia e discutam isso com a sociedade, que dará ou não legitimidade às mudanças necessárias.  Leia a seguir a entrevista com Monica, que já foi professora de economia da PUC-RJ.

    Quais os acertos da política econômica em 2017 que deveriam ser levados para 2018?

    O governo Temer tem o mérito de ter conseguido estabilizar a economia, que estava em uma situação muito ruim, mas, ao mesmo tempo, jogou para a frente uma conta fiscal bastante salgada para o próximo governo, principalmente com tudo o que foi feito para tentar garantir o apoio que precisava não só para a passagem dessas reformas imperfeitas como para a sua própria sobrevivência política. Olhando para a frente, quais são as reformas e quais são as propostas que os candidatos vão discutir na campanha, se é que vão discutir? O que o Brasil deveria discutir? Isso é mais útil para o país.

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    Na sua avaliação, quais são as questões que não podem ficar de fora no debate eleitoral?

    É óbvio que a reforma da Previdência necessária não é essa que está sendo discutida pelo Congresso. Tem que ser feita – e em breve – uma com substância. A proposta original do governo abarcava as categorias do funcionalismo público que causam impacto maior à Previdência por causa dos benefícios pagos. Mas, por influência de diversos grupos de interesse, a proposta foi sendo sucessivamente diluída até um ponto em que o próprio governo teve interesse em fazê-lo, enquanto mantém um discurso reformista que não é verdadeiro. Os méritos foram todos perdidos. O país precisa também de um ajuste fiscal porque o déficit primário e o déficit nominal estão nas alturas. Há outras questões que precisam ser discutidas.

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    Quais são essas questões?

    O Brasil está há anos tentando reduzir a desigualdade, mas a maior parte dos programas sociais é ineficiente. O sistema tributário deveria ajudar, mas penaliza os mais pobres e induz à concentração de riqueza. É fundamental discutir quais políticas podem ser mais eficazes. A discussão sobre um programa de renda básica universal, aliada à racionalização dos gastos públicos, é algo absolutamente urgente no Brasil. A área de comércio exterior também precisa estar nas propostas. O Brasil continua a ser um dos países mais fechados do mundo. Existe um flanco aberto na economia internacional para que a atuação do Brasil seja maior, dado que os Estados Unidos querem sair de cena. O país tem uma oportunidade única de se inserir nessa área. Mas a estrutura dentro do governo é muito ruim. Não há uma centralização de agenda comercial no Executivo. Não existe uma visão coesa entre ministérios e agências sobre qual deveria ser a estratégia para a inserção do país. Tem o tema da baixa produtividade. É preciso entender por que o Brasil está tão atrasado e avança tão devagar nessa questão.

    Quais serão as consequências se os candidatos e a sociedade não discutirem essas questões?

    O Brasil está em um momento de inflexão. O país tem a chance de atacar de fato os problemas que nós temos. Tudo o que aconteceu nos últimos anos, todos os descalabros de política econômica do governo Dilma, todos os descalabros de corrupção do PT e do PMDB, o desmonte político no país, tudo isso nos dá a chance de reformular uma série de coisas e de pensamentos. E isso tem que chegar a um discurso acessível para a sociedade, para que a gente possa pensar em quais são as reformas de que o país precisa. Já que haverá uma eleição em 2018 que pode ser transformadora, mais do que nunca essa campanha deveria ter um caráter propositivo, na qual os candidatos coloquem na mesa o que pensam sobre essas questões que são capazes de transformar o Brasil. A campanha eleitoral será uma oportunidade para que a sociedade discuta os seus principais problemas. Mas, se não for assim, estaremos condenados ao ciclo de mediocridade que estamos vivendo.

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