Brasileiros imitam o caso da GameStop para alavancar ações da IRB
Os papeis da resseguradora dispararam e os criadores do movimento temem irregularidades frente à CVM
Um grupo de investidores resolveu seguir os passos da comunidade “wallstreetbets”, do Reddit, e alavancar ações do IRB por meio de uma repentina demanda sobre suas ações. Chamado de “Short Squeeze IRB”, o grupo no Telegram está ganhando milhares de seguidores por minuto e passou de 9,6 mil integrantes às 11h56 para 22 mil às 15h13. O objetivo, segundo um dos integrantes à frente do grupo que falou a VEJA sob a condição de anonimato, é “acabar com a manipulação que UBS, Morgan Stanley e outros vem fazendo com o papel”. Ao ser questionado sobre o perfil dos criadores da comunidade, ele afirmou que “somos um grupo de investidores, jovens, idosos, homens, mulheres, a IRB tem hoje 300 mil investidores pessoa física, e não podemos ficar parados vendo grupos destruírem o ativo”, disse.
Sobre por que escolher a resseguradora IRB para o movimento, a fonte afirmou que o grupo acredita que “a IRB, mesmo com prejuízo está se recuperando, as fraudes que existiam aconteceram na antiga diretoria”. “Hoje, o Cássio está colocando as coisas em ordem”, se referindo a Antonio Cassio, atual CEO da empresa. Os organizadores estão procurando advogados para saber se o movimento é legal e os administradores do movimento temem se complicar frente à agência reguladora do mercado financeiro brasileiro. Em mensagem de descrição do grupo, há a ressalva de que “para que tenhamos sucesso e para evitar qualquer dificuldade com a CVM, precisamos adaptar as postagens aqui de acordo com as normas do mercado”.
Questionada, a CVM informou apenas que “acompanha e analisa informações e movimentações envolvendo companhias abertas, tomando as medidas cabíveis, sempre que necessário. A Autarquia ressalta que possíveis casos concretos envolvendo a situação mencionada em sua demanda serão avaliados individualmente pela Autarquia, por meio de processos administrativos que poderão, até, gerar as punições previstas no art. 11 da Lei 6385/76.”.
A IRB é a maior empresa de resseguros do país e suas ações dispararam desde a abertura do mercado nesta quinta-feira 28, atingindo 7,58 reais às 13h15, uma alta de 16% em relação ao fechamento de ontem. Desde o dia 21 de janeiro, os papeis da empresa vinham em um ciclo de baixa e despencaram de 7,60 reais para 6,53 na segunda-feira 26. Após as notícias de que investidores pessoa física nos Estados Unidos estão se organizando para valorizar as ações de empresas como GameStop, Nokia e Blackberry, a empresa foi a escolhida por este grupo de brasileiros, mostrando mais uma vez que, unidos, os pequenos investidores conseguem derrubar os grandes, assim como as sardinhas que se unem para parecer tão grandes e assim afugentar um tubarão .Um destes investidores que está à frente do grupo no Telegram é o empresário Fabrício Dutra, de 29 anos, que passou a investir na bolsa o ano passado para diversificar a renda. Ele investe na IRB desde fevereiro de 2020 e possui 15 mil ações da empresa, a maioria comprada entre outubro e novembro. Às 10h30 desta quinta-feira 28, as ações da varejista de videogames GameStop, por sua vez, bateram 469 dólares e recuaram para 220 no período da tarde – no começo da semana, valiam 145 dólares.
Este movimento é reflexo de uma revolução que ocorreu no mercado de investimentos após a Covid-19. Com os juros baixos e poucas opções de investimentos rentáveis, os investidores pessoa física correram para a bolsa de valores, algo que ocorreu no Brasil, mas é ainda mais forte nos Estados Unidos. Por lá, essa alta foi ainda mais acirrada com aplicativos de investimento como o RobinHood, que permitem a compra e a venda de frações de ações com muita facilidade. Durante o lockdown, as ações viraram o passatempo de muita gente, principalmente jovens. Para se ter ideia, em poucos meses, o valor movimentado pelo RobinHood ultrapassou 50% do que movimentou as maiores corretoras dos Estados Unidos em todo o ano de 2019. Independentemente do desfecho desta história, uma coisa é certa: se antes os investidores monitoravam apenas fatores macroeconômicos e balanços de empresas para fazer suas apostas, agora eles têm uma preocupação a mais. A diferença é que, agora, as sardinhas também ganharam o porte de um tubarão, à altura dos de Wall Street.