O ex-diretor-presidente global da BRF Brasil Foods Pedro de Andrade Faria e outras nove pessoas — oito ligadas à empresa e uma gerente de um laboratório que prestava serviço para a companhia — foram presos na manhã desta segunda-feira (5), na terceira fase da Operação Carne Fraca, denominada Trapaça.
Eles irão responder por falsidade documental, estelionato qualificado e formação de quadrilha ou bando, além de crimes contra a saúde pública, entre outros.
A investigação da Polícia Federal (PF) aponta que três unidades de produção de frango da BRF – em Carambeí (PR), Rio Verde (GO) e Mineiros (GO) – fraudavam os resultados dos exames para a presença da bactéria salmonela. Uma fábrica de produção de ração da empresa, em Chapecó (SC), e três laboratórios que faziam testes de qualidade com os produtos também são investigados.
De acordo com Alexandre Campos da Silva, coordenador-geral do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, as adulterações não representam, até o momento, risco para a saúde dos brasileiros. “Há dois tipos da salmonela que representam risco para a saúde. Não há nenhum indício de que havia a presença desses dois tipos nas unidades investigadas. Mas a apuração continua”, diz Silva.
A fraude da empresa dizia respeito basicamente ao mercado externo e em em especial a doze destinos, no qual estão incluídos o bloco europeu, Rússia, África do Sul e China, que contam com regras mais restritivas para a medição da bactéria. “Se no Brasil temos uma tolerância próxima de 20%, nesses países o limite é próximo de zero”, afirma o coordenador-geral do Dipoa.
As exportações a partir dessas plantas estão suspensas pelo Ministério da Agricultura. “Nesta fase não há nenhum servidor público investigado e o Ministério da Agricultura está trabalhando ao lado da Polícia Federal”, diz. Segundo Silva, no entanto, podem ocorrer retaliações à carne brasileira por parte dos compradores.
ESQUEMA
De acordo com o coordenador-geral da Carne Fraca, o delegado Maurício Grillo, a BRF operava em um esquema estruturado e hierárquico que visava a fraudar deliberadamente as amostras para que se enquadrassem nos limites aceitos pelos mercados compradores. Grillo cita uma troca de e-mails entre uma técnica de qualidade da fábrica de rações em Chapecó e uma segunda funcionária, que pergunta se as medições não poderiam ser feitas “dentro da lei”. “Ter, tem, mas hoje é uma estratégia da empresa”, responde a técnica de qualidade. “A adulteração era um praxe na empresa”, explica.
AÇÃO TRABALHISTA
Segundo Grillo, granjeiros que forneciam para a companhia e uma ex-funcionária da BRF que moveu uma ação trabalhista contra a empresa foram fundamentais para a investigação.
As investigações mostram, inclusive, uma orientação do gerente jurídico da empresa a seus subordinados para quem fechem um acordo com a funcionária quanto antes, para “não deixar o processo andar, sob pena de o juiz enviar as informações para os órgãos competentes e complicar ainda mais a situação da empresa”. Outro gerente recomenda, então, que seja paga uma indenização cinco vezes maior que o normal para casos trabalhistas como aquele.
OUTRO LADO
A BRF divulgou, nesta tarde de segunda-feira, 5, comunicado sobre a Operação Trapaça, deflagrada nesta segunda pela Polícia Federal, como desdobramento da Carne Fraca. A empresa diz que está “se inteirando dos detalhes” e colaborando com investigações para esclarecer os fatos.
“A companhia segue as normas e regulamentos brasileiros e internacionais referentes à produção e comercialização de seus produtos”, disse. Por fim, a BRF afirmou que permanece “inteiramente à disposição das autoridades, mantendo total transparência na interlocução com seus clientes, consumidores, acionistas e o mercado em geral”.
(Com Estadão Conteúdo)