Canaã dos Carajás lidera os Indicadores Fiscais e sustenta sua expansão com a força da mineração
Com forte presença da Vale, a cidade do Pará tem avanços na administração pública, resultado da automação de processos internos e capacitação de servidores
Dos 328 milhões de toneladas de minério de ferro produzidas pela Vale no ano passado, 82 milhões foram extraídas da unidade Carajás Serra Sul, localizada em Canaã dos Carajás, no Pará. Ela é uma das três maiores operações de minério de ferro da companhia no sudeste do estado, região responsável por cerca de 60% da produção da mineradora. A atuação da Vale no município é estratégica, resultado de mais de quatro décadas de presença contínua na região, iniciada com os estudos geológicos conduzidos ainda no fim da década de 1960. Atualmente, essa presença vem sendo ampliada por meio de um investimento da ordem de 2,8 bilhões de dólares, que visa a aumentar a capacidade produtiva da unidade em mais 20 milhões de toneladas por ano. A licença para a nova operação foi concedida em setembro, e o projeto já alcançou 80% de avanço físico. As operações estão previstas para começar no segundo semestre de 2026.
Como consequência da atividade mineral intensa, a arrecadação municipal se tornou volumosa. Segundo dados da própria empresa, de 2016 a 2024, a chamada Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais — uma espécie de royalty pago pelas empresas mineradoras ao estado e aos municípios como contrapartida pelo uso dos recursos minerais — cresceu quarenta vezes. A projeção é que a tendência de crescimento continue nos próximos anos, acompanhando a expansão das operações da mineradora no território. Números como esses ajudam a explicar por que o município foi o campeão geral na categoria Indicadores Fiscais no levantamento feito pela Austin Rating.
Os avanços recentes na administração pública são resultado da automação de processos internos, da capacitação contínua de servidores e da redução dos prazos de processamento contábil. A cidade tem se destacado pela forma como organiza sua gestão fiscal e orçamentária, mesmo diante de um crescimento urbano acelerado. Segundo o levantamento da Austin Rating, o município ocupa também o primeiro lugar em execução orçamentária e o terceiro em austeridade fiscal. No recorte específico para prefeituras de médio porte, lidera em execução orçamentária, desempenho fiscal e comércio exterior, ficando em segundo lugar em austeridade. “Cada indicador positivo representa escolas funcionando melhor, unidades de saúde equipadas, obras avançando e uma cidade mais segura”, diz a prefeita Josemira Gadelha (MDB). Segundo o secretário municipal de Finanças, Alciro Moraes, a receita corrente líquida do município ultrapassou 2 bilhões de reais em 2024. Em 2025, somente até agosto, o valor já se aproximava de 1,2 bilhão de reais.
Localizado a 800 quilômetros ao sul da capital, Belém, o município apresenta um dos crescimentos demográficos mais expressivos da Região Norte. De 2010 a 2022, a população saltou de 27 000 para 77 000 habitantes, um aumento de 188,5%, segundo o IBGE. O número de domicílios também cresceu substancialmente, de cerca de 10 000 para 28 000. A expansão está ligada à migração de trabalhadores atraídos pelas oportunidades no setor mineral. De acordo com Gildiney Sales, diretor do Corredor Norte da Vale, as operações da companhia em Canaã geram mais de 17 000 empregos diretos e indiretos. Ele explica que, além da produção, a empresa tem buscado adotar processos com menor impacto ambiental. “Adotamos o sistema truckless, que reduz o uso de caminhões fora de estrada, substituídos por escavadeiras e correias transportadoras, e também o beneficiamento a seco, que dispensa o uso de água e de barragens de rejeitos”, afirma Sales. Essas medidas permitem reduzir em até 95% o consumo de água, em 73% o uso de energia elétrica e em cerca de 40% as emissões de gases de efeito estufa.
Atualmente, o município fecha seus resultados contábeis até o 15º dia do mês seguinte, mas a meta é antecipar o prazo para o décimo dia. Isso será possível com a implantação de novas ferramentas de automação, que devem ampliar o tempo de análise e correção. A equipe de arrecadação também passa por treinamentos e revisões de processos, em linha com as mudanças que virão pela reforma tributária. A meta da administração municipal é garantir que os recursos públicos sejam utilizados de forma responsável, eficiente e dentro dos limites legais.
Essas medidas estão conectadas a um plano de longo prazo, com horizonte até 2050. O objetivo é fazer com que o crescimento seja acompanhado por qualidade de vida e sustentabilidade fiscal. Os principais desafios se concentram em áreas como saúde, educação, mobilidade urbana e habitação — temas que impactam o cotidiano da população. “Queremos crescer sem perder o equilíbrio, desenvolver sem comprometer o futuro e assegurar que o progresso alcance todos os cidadãos”, diz a prefeita. Para isso, o município prepara obras de infraestrutura estimadas em 1,5 bilhão de reais, abrangendo áreas como saneamento básico, habitação, mobilidade e logística. A rede municipal de ensino está sendo ampliada e, na saúde, o foco recai sobre a atenção primária. A expectativa é que os investimentos ajudem Canaã a manter sua trajetória de crescimento com planejamento e gestão fiscal eficiente.
Publicado em VEJA, novembro de 2025, edição VEJA Negócios nº 20
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