O que mais chamou a sua atenção quando chegou ao Brasil? Comecei a trabalhar na Toyota em 1987. Em 1992, me mandaram para o Brasil para estudar a economia local. Cheguei em uma época dificílima, com hiperinflação. Todos os dias os preços mudavam. No Japão não tinha inflação. Levei um susto.
Como essa experiência no Brasil o ajudou profissionalmente? Ajudou muito na minha carreira. Nem todos os japoneses na Toyota sabem como funciona a economia brasileira ou conhecem a cultura da América Latina.
Como a Toyota enxerga o mercado brasileiro? A pandemia diminuiu a produção de carros no Brasil por falta de peças. Agora, estamos em uma época difícil, com correção da oferta e diminuição da demanda, além de juros altos. Mas, graças ao mercado externo, nossas fábricas estão produzindo em três turnos.
O programa de subsídio criado pelo governo foi positivo? De fato, precisa haver algo para incentivar a demanda do consumidor, mas subsídio dura pouco tempo. No médio e longo prazos, o Brasil deve resolver a questão tributária para que o crescimento seja sustentável. Carro no Brasil é mais caro do que em outros países.
Como convencer a matriz da Toyota de que vale a pena investir no Brasil? Estamos lutando. Se a Toyota fizer investimento errado, o acionista vai pressionar. Por isso, é mais fácil levar investimentos para China e Estados Unidos. Meu papel é convencê-los de que vale a pena investir no Brasil.
De que forma faz isso? Ninguém investe em um país pequeno que não tem indústria de peças. O Brasil possui isso há 100 anos. Esse é um diferencial crucial. Minha dificuldade é que, se não houver clara visibilidade de regulamentação, incluindo impostos, não consigo propor projetos para os chefões no Japão.
Publicado em VEJA de 25 de agosto de 2023, edição nº 2856