Carta ao Leitor: Maré favorável
Embora existam muitos ajustes a serem feitos, pode-se concluir que o Brasil tem nos próximos anos uma janela de oportunidades fantástica para crescer
Na era dos posts e das mensagens curtas nas redes sociais, terreno fértil para a disseminação de desinformação e inverdades, VEJA permanece fiel a um de seus valores mais caros: a análise profunda dos problemas brasileiros e, claro, as possíveis soluções. Seguindo essa tradição, realizamos na semana passada, em Zurique, na Suíça, o 1º Brazil Economic Forum, organizado em parceria com o Lide, grupo de líderes empresariais. Transmitido na íntegra em nossos canais digitais, o evento contou com a presença de personalidades do mundo político, como o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco, do Poder Judiciário, representado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, e do empresariado brasileiro, com nomes estelares dos setores financeiro, de energia, saúde, minério de ferro, construção civil, infraestrutura e aviação. Nas palavras do senador Rodrigo Pacheco: “O evento foi absolutamente enriquecedor. Ouvir investidores nacionais e estrangeiros, CEOs e pessoas responsáveis pela geração de empregos no Brasil nos enseja, a nós, políticos, uma grande responsabilidade. Muitas das decisões que impulsionam o país passam pelos caminhos que tomamos em Brasília”.
Entre os vários temas abordados, diante de uma plateia que contava com investidores europeus e asiáticos, pelo menos quatro grandes discussões ganharam relevo: responsabilidade fiscal, segurança jurídica, equilíbrio entre os poderes e a transição energética. Embora existam muitos ajustes a serem feitos, pode-se concluir que o Brasil tem nos próximos anos uma janela de oportunidades fantástica, gozando de uma posição privilegiada em relação a seus pares do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e a outras economias do planeta. Instituições democráticas sólidas, produção recorde na área de alimentos e commodities, malha energética limpa, estabilidade política e bom posicionamento geopolítico foram fatores citados como altamente favoráveis. “Temos vantagens comparativas que podem se tornar vantagens competitivas. Estou confiante. O Brasil deu respostas em 2023: o PIB superou expectativas, a inflação está controlada e a balança comercial foi recorde. Esses ganhos nos fazem acreditar que 2024 será muito bom”, analisou Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho de administração do Bradesco e um dos palestrantes do fórum.
A distância entre o potencial e a realização concreta do que foi imaginado, porém, é gigantesca. Às vezes, imprevistos como guerras em locais sensíveis ou a eleição de adversários políticos em países-chave no tabuleiro internacional podem interromper a maré favorável. Em outras ocasiões, o problema é a inoperância do governo ou escolhas erradas em momentos decisivos (ao contrário do cenário externo, estas podem ser evitadas). Apesar de a equipe econômica liderada pelo ministro Fernando Haddad ter obtido relevantes vitórias na disputa contra alas da própria administração e do PT, o presidente Lula ainda flerta com soluções ultrapassadas, que drenam recursos do orçamento público e, pior ainda, afastam o investimento privado. Ou seja, o Brasil se prejudica duplamente quando opta pelo apetite estatal. A chave, vale sempre ressaltar, é cortar despesas, sem aumentar a arrecadação com a cobrança de mais impostos. Ainda há tempo, porém, de rever posições e fazer as escolhas certas, afastando de vez a máxima proferida com ironia pelo célebre economista Roberto Campos (1917-2001): “O Brasil não perde uma oportunidade de perder oportunidades”.
Publicado em VEJA de 26 de janeiro de 2024, edição nº 2877