Clima eleitoral antecipado amplia risco fiscal e afeta mercado
Com novo Bolsa Família, revisão dos precatórios e reformas travadas, juros futuros se aproximam de 10% e prejudicam o país; Bolsa já recuou 7% no mês
O clima antecipado de disputa eleitoral à Presidência em 2022 já afeta o mercado de investimentos, mesmo faltando quinze meses para o pleito. No mês, o Ibovespa acumula queda de 7%, deixando para trás a casa dos 125 mil pontos – atualmente o índice oscila entre os 116 e 117 mil pontos. É verdade que outros temas ameaçam as bolsas globais como um todo. O risco da variante delta e a queda das ações de commodities ajudaram a derrubar a bolsa brasileira, mas basta olhar os juros futuros do país para ver que os problemas domésticos estão começando a pesar mais na análise dos investidores.
Nesta sexta-feira, 20, o índice DI de 2025 oscila próximo aos 9,66% e ontem chegou a encostar nos 10% – a última vez que o patamar chegou a 9,64% foi em dezembro de 2018, quando o então presidente Michel Temer estava prestes a passar o bastão para o sucessor, Jair Bolsonaro. Este índice reflete o prêmio que o mercado cobra para emprestar dinheiro ao país. Preocupado com a saúde das contas públicas, naturalmente está cobrando um retorno mais alto para alocar os seus recursos por aqui.
“O Brasil está em modo de eleição, não só em função da gastança com a campanha eleitoral, mas o governo quer comprar popularidade. É isso que está por trás das discussões sobre o Bolsa Família e os precatórios. Há ainda o risco de ruptura institucional. O mercado não pode fingir que isso não existe”, diz Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch. A política mais dura do Comitê de Política Monetária, com elevação de juros, contribui com este quadro.
Outro fator que está pesando no risco fiscal do país é a percepção de que as reformas estruturantes, importantes para diminuir as contas públicas, enfrentam um cenário mais desafiador para caminhar. “A antecipação das eleições em um ano e meio começa a influenciar as decisões econômicas e o debate passa a entrar no Congresso, fundamental para a aprovação das reformas”, diz Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama Investimentos. “É melhor nem fazer uma reforma tributária, pois do jeito que a proposta atual está, a situação pode ficar pior do que já é”, diz ele.
É verdade que a pressão fiscal do país diminuiu, afinal no ano passado a relação dívida PIB estava acima de 95% e agora caiu para aproximadamente 83%. O motivo por trás desta queda, porém, não é nada positivo: a inflação crescente no país ameniza esta relação dívida/PIB, afinal ela faz com que o PIB seja revisto para cima. O mercado sabe disso e, principalmente, que a dívida uma hora terá de ser paga. “No limite, essa dívida vira emissão de moeda e mais inflação. É uma coisa que lá no final vai pesar”, diz Espírito Santo.
A grande questão é quanto o mercado vai cobrar no futuro para financiar esta dívida. Os juros atuais, próximos a 10%, mostram que o preço já é bastante caro e que se o governo não assegurar que se importa com a saúde fiscal do país, independentemente das eleições, este ciclo pode se agravar.