Em 2023, o volume de crédito oferecido pelas fintechs cresceu 52%, chegando a 21,1 bilhões de reais. Os dados são da 4ª edição do estudo sobre o segmento de fintechs de crédito feito pela PwC Brasil e a Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), que contou com a participação de 40 empresas do setor.
Uma das conclusões da pesquisa é de que o setor demonstrou boa capacidade de resiliência e adaptação das empresas do segmento, diante de uma taxa básica de juros alta – a Selic começou 2023 em 13,75%, e terminou em 11,75%. Mais eficientes e tecnológicas na gestão de riscos, as fintechs conseguiram reduzir juros cobrados em sete categorias de crédito para pessoas físicas , destaca o estudo.
Ainda que o cartão de crédito rotativo oferecido pelo setor apresentasse juros de 242,4% ao ano, a média nacional, divulgada pelo Banco Central, atingiu 440,8% ao ano. A diferença pode refletir a maior eficiência operacional das empresas e o uso da tecnologia para aprimorar a gestão de riscos e oferecer condições mais favoráveis aos consumidores.
Nas operações de crédito, os juros têm que cobrir alguns elementos, como lucratividade, tributos, inadimplência e custo de capital. As fintechs conseguiram otimizar vários elementos que têm impacto nessa composição dos juros praticados na ponta, segundo explica Willer Marcondes, sócio Strategy e líder de consultoria em serviços financeiros da PwC Brasil a VEJA.
“Começando pela inadimplência, pelo provisionamento de perdas, o jeito de você reduzir provisionamento de perdas é oferecer um crédito de melhor qualidade, você achar o limite certo do cliente, captar um cliente com condições de pagamento, ter capacidade de cobrar o cliente de uma forma ativa quando ele está em atraso, oferecer flexibilidade nos modelos de pagamento, isso tudo favorece”, diz.
O uso da tecnologia, com cruzamento de informações que qualidade, usando os dados que coletados do cliente diretamente ou através do Open Finance foi fundamental para que melhorar a oferta de crédito, permitindo menos inadimplência e um provisionamento de perdas menor. “Obviamente também quanto à eficiência operacional de cobrança de alertas de comunicação com cliente, quanto melhor for, da mesma forma também ajuda a mexer a na inadimplência”, afirma Marcondes.
Se há pouco espaço de otimização na questão tributária, quando se fala em custo de capital, as fintechs têm se mostrado cada vez mais eficientes, com captura de crédito de financiamento das operações cada vez mais melhor. “Isso compensa e faz com que ela consiga também oferecer uma perspectiva melhor de juros e por fim, a combinação de todo balanço da empresa”, diz o executivo. Ele explica que o lucro da empresa também vem dos juros e que se a operação é mais barata e eficiente, isso faz com que a estrutura inteira tenha um custo mais menor, dando condições melhores para o crédito. “Os juros são ponta final e vêm com esse pacote de elementos. Obviamente a tecnologia aplicada e eficiência operacional tem contribuições diretas na aplicação dos juros”, afirma.
Mais clientes
Com condições mais atrativas, de 2022 a 2023, o número de clientes quase dobrou, segundo a pesquisa. A base de clientes pessoa física de fintechs no Brasil saltou de 25,6 milhões em 2022 para 46,7 milhões em 2023, um aumento de 82%. No exterior, o crescimento no mesmo período foi de 58%, chegando a 7 milhões de clientes.
Além da demanda crescente por crédito digital, o levantamento mostra um amadurecimento do setor, com 58% das empresas apresentando faturamento anual ou investimento total acima de R$ 20 milhões, uma alta de 10 pontos percentuais desde 2022.
A diversificação de clientes também é um dos destaques da pesquisa. Após cair em 2022, o percentual de fintechs que ofertam soluções tanto para clientes pessoa física (PF) quanto pessoa jurídica (PJ) voltou a crescer em 2023, incremento de 17 pontos percentuais em relação a 2022: 42% das empresas oferecem produtos para PF e PJ.
O número de funcionários também está crescendo: 35% das fintechs têm mais de 150 funcionários, um aumento de quatro pontos percentuais em relação ao ano anterior.
Licença do Bacen
No Brasil, há várias categorias de fintechs: de crédito, de pagamento, gestão financeira, empréstimo, investimento, financiamento, seguro, negociação de dívidas, câmbio, e multisserviços.
Em relação à oferta de crédito, podem ser autorizadas a funcionar no país dois tipos de fintechs– para intermediação entre credores e devedores por meio de negociações realizadas em meio eletrônico: a Sociedade de Crédito Direto (SCD) e a Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP), cujas operações constarão do Sistema de Informações de Créditos (SCR).
Perto da metade das fintechs pesquisadas pela PwC e ABCD (46%) têm a licença do Banco Central do Brasil para operar como Sociedades de Crédito Direto (SCD) ou Sociedades de Empréstimo entre Pessoas (SEP), em comparação com apenas 11% em 2019. Além disso, 8% estão aguardando a liberação de licenças já solicitadas. A proporção de fintechs que atuam como originadores de crédito permaneceu estável, indicando um papel consolidado dessa função no ecossistema de crédito digital.