A peste suína africana (PSA) dizima a produção chinesa de porcos desde agosto do ano passado e cria uma oportunidade única para o mercado brasileiro de suínos. Entretanto, a previsão de especialistas é que o Brasil não consiga aproveitar essa chance de atender à demanda e elevar as suas vendas.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior revelam que a exportação de suínos cresceu, em volume, 16% de janeiro a maio deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado. Quando compara-se apenas as vendas para as China, o aumento é de 12%. Apesar desse crescimento, o Brasil não deve conseguir aproveitar a oportunidade como poderia devido a “fortes limitadores”, segundo Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “Nossa produção é pequena. Exportamos em média 700 mil toneladas. A disponibilidade este ano não vai ser tão absurda”, afirma.
Essa produção pequena é consequência de um mercado instável, principalmente nos últimos anos, segundo especialistas. O embargo da Rússia, principal comprador brasileiro, durante quase todo o ano passado, é um dos exemplos disso. Além da baixa produção, a cadeia de exportação de suínos não é integrada como poderia, dependendo ainda de produtores individuais, que são “mais cautelosos em aumentar a produção e, muitas vezes, não têm o capital necessário para tal”, afirma Juliana Ferraz, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq).
Apesar desses fatores, a produção suína brasileira está longe de ser irrelevante. O Brasil é o quarto maior produtor e exportador de suínos do mundo. Já a China é a maior exportadora e a maior consumidora dessa carne. Com isso, o surto da peste, que é inofensiva para os humanos e fatal para os porcos, abre espaço para o Brasil adentrar mais intensamente tanto no país asiático como em diversos mercados do mundo, que antes compravam apenas do chinês.
O Brasil tem, então, uma chance única de exportar para o maior mercado do mundo, que perdeu cerca de 22% de seu rebanho. “A crise chinesa não é de seis meses, mas de alguns anos”, afirma Turra, enfatizando que o problema não deve ter um fim tão rapidamente. Segundo ele, o fato de o país ter muitos porcos “vivendo soltos” faz com que o surto se torne ainda mais difícil de controlar.
Para o especialista, a burocracia do Brasil também atrapalha, pois as autorizações para exportar são mais lentas do que o necessário. “Temos uma lista de 58 plantas de novos frigoríficos que querem e podem vender para a China, mas não têm habilitação”, afirma Turra. Os produtores ainda enfrentam outro fator: o porco demora oito meses para poder ser abatido, o que dificulta uma rápida expansão.
Frango surge como solução
Em comparação ao porco, o frango, por exemplo, demora apenas 42 dias para ser abatido. Mas o tempo para o abate foi apenas um dos fatores que catapultaram essa exportação em meio à crise do mercado chinês. Segundo especialistas, sua capacidade de expansão é muito maior e estruturada que a de suínos.
Com a peste, os consumidores chineses começam a procurar outras alternativas de proteína. E devido a seu preço mais baixo com relação à outras carnes como a bovina, por exemplo, o consumo de frango ganhou força. De janeiro a maio deste ano, o Brasil exportou, em volume, 15% mais frango para a China do que no mesmo período do ano passado, segundo dados da Secex. “Mesmo com a venda de suínos vinda de fora, os consumidores chineses ficam receosos de comprar”, explica Ferraz, do Cepea.
O Brasil hoje é o maior exportador de frango do mundo, segundo a ABPA. Para Ferraz, a produção de frango no país tem suas cadeias mais interligadas com a indústria, o que permite uma expansão mais rápida. “Parte dessas indústrias estava com a capacidade ociosa no ano passado”, afirma ela, ressaltando que há espaço para crescimento. “É uma grande oportunidade para o Brasil crescer nesse setor”, avalia Turra.