Responsável por cerca de 90% do fornecimento de chips semicondutores avançados no mundo, a TSMC, sigla para Taiwan Semiconductor Manufacturing Company, assiste com apreensão a escalada nas tensões entre a China e os Estados Unidos. Isso porque o avião que levava a líder da Câmara nos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi, pousou em Taiwan no fim da manhã desta terça-feira, 2. A visita acende um conflito com as autoridades da China, que reivindica o território de Taiwan e ameaça invadir a ilha como retaliação à ida dos EUA. Diante do iminente conflito, o presidente da TSMC, Mark Liu, já declarou que uma invasão chinesa tornaria suas fábricas “inoperantes” e criaria uma “grande turbulência econômica”, o que afetaria o fornecimento global de semicondutores.
Com clientes como Apple, AMD, Nvidia, Sony, Qualcomm, entre outras, a TSMC é conhecida como uma ‘montanha sagrada’ taiwanesa por desempenhar um papel crucial para a economia mundial. Seus componentes são usados para a fabricação de carros, computadores, smartphones e até equipamentos de guerra como caças e mísseis. Não à toa, é a décima primeira maior companhia de capital aberto do mundo, avaliada em mais de 440 bilhões de dólares — montante que é, por exemplo, quase três vezes ao da rival americana Intel. No primeiro semestre de 2022, a TSMC obteve uma receita de 34,4 bilhões de dólares, avanço de 39,6% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Em entrevista ao canal de televisão americano CNN, Liu enfatizou que “ninguém pode controlar o TSMC a força” devido à extrema sofisticação das fábricas da empresa, que exigem uma conexão em tempo real com parceiros em todo o mundo para tratar de assuntos que vão desde as matérias-primas e produtos químicos até a peças de reposição e sistemas. Apesar de ter uma boa ligação com os chineses, inclusive com operações no país vizinho, a TSMC teme que um hipotético controle pela China aconteça com o intuito de prejudicar a economia americana, uma vez que as principais companhias norte-americanas dependem de seus chips. Em suma, isso poderia ter impacto nas cadeias de produção e, por consequência, uma escalada da inflação mundo afora.
Especialista em economia chinesa, o professor do Insper Roberto Dumas Damas diz que, a princípio, as operações da TSMC não serão prejudicadas. “O interesse no momento é mais geopolítico do que econômico. Os EUA estão marcando uma posição porque viram como a China se posicionou em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia. Mas acho que isso não deve prejudicar a TSMC, por enquanto”, afirma ele. Com o receio de uma escalada nas tensões, as ações da gigante taiwanesa apresentaram queda acentuada na abertura do pregão, mas figuram, às 13h49, em alta de 1%, em trajetória semelhante a dos índices Nasdaq e S&P 500. No Brasil, o maior impacto deve ser visto no dólar, que avança 1,1% às 13h45, para 5,23 reais.