Já há algum tempo que quando Jair Bolsonaro (PSL) sobe nas pesquisas, a bolsa se valoriza e o dólar cai. É de se pensar então que, caso ele vença o pleito contra Fernando Haddad (PT), a bolsa vá disparar e o dólar despencar. Apesar desse otimismo do mercado financeiro com o resultado das eleições, que será conhecido no próximo domingo, 28, especialistas indicam cautela ao investidor. Principalmente àquele que está pouco habituado a investimentos mais arriscados, como bolsa, dólar ou ouro – três ativos que renderam muito mais do que a renda fixa neste ano.
Até sexta-feira, 19, todos os principais investimentos em renda variável ganharam dos títulos do Tesouro Direto e da poupança. Contudo, há incertezas que podem prejudica-los até o final do ano. Assim, é melhor ficar com uma rentabilidade garantida do que apostar numa alta expressiva e correr o risco de se frustrar com uma queda. Esse é o sentimento que normalmente o mercado chama de “aversão ao risco”.
A dica dos especialistas é válida. No longo prazo, a renda fixa brasileira se mostra um dos melhores investimentos possíveis. “Entre o início de 2000 e o final de 2017, o dólar subiu 70%, enquanto que os títulos do governo valorizaram 900%. O dólar não ganhou nem da inflação, que foi de 220%”, diz o planejador financeiro Helio Fugagnoli.
A diferença é que, até 2017, as taxas de juros pagas pelo governo, normalmente, superavam 10% ao ano. Isso pode estar no passado. O relatório Focus, publicação do Banco Central que compila a opinião de mais de 100 economistas, indica que a taxa básica de juros (Selic) deve se manter ao redor de 8% até 2021. Ou seja, a melhor rentabilidade que um investidor conseguirá com um título atrelado à Selic, mantido por longo prazo, será de 6,8% – já com o Imposto de Renda descontado.
Veja a rentabilidade dos principais investimentos | ||
RENDA FIXA | ACUMULADO, em % | |
ANO | 12 MESES | |
CDB | 4,72 | 5,59 |
Poupança | 3,85 | 4,80 |
Tesouro Pré 2021 | 6,90 | 7,89 |
Tesouro IPCA+ 2024 | 7,25 | 5,32 |
Tesouro IPCA+ 2035 | 7,54 | 3,68 |
Tesouro Selic 2021 | 4,13 | 5,18 |
RENDA VARIÁVEL | ||
Ibovespa | 8,70 | 5,78 |
Dólar Comercial | 10,23 | 23,40 |
Ouro BM&Fbovespa | 7,91 | 13,35 |
* Rendimentos já descontados o Imposto de Renda | ||
Fontes: B3, Tesouro Direto, Banco Central |
Então, se a rentabilidade está baixa, é hora de correr para a renda variável? Não. Ao menos, não agora. É o que diz o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira. “Estamos em um momento de diversificar as aplicações, com renda fixa e variável. Até fundos multimercados que trabalham com dólar são bem-vindos. Porém, há uma grande pressão no mundo para derrubar o preço de ativos em renda variável, o que pode prejudicar a bolsa e atrapalhar a rentabilidade”, diz.
Essa pressão é causada por fatores passageiros, como a crise comercial entre Estados Unidos e China, que pode prejudicar o comércio internacional, mas também por fatores que devem perdurar, como juros mais altos da economia americana. Sempre que o Banco Central dos EUA, o Fed, sobe os juros, aumenta o interesse de investidores em aplicar nos títulos do tesouro americano, retirando dinheiro dos mercados de renda variável. Isso pode derrubar a cotação de ações. Além disso, as bolsas mundiais estão numa trajetória de alta desde a crise financeira de 2008, e Vieira acredita que pode haver uma correção nos preços das empresas.
“Além disso, o que tem motivado o bom desempenho da bolsa brasileira é o momento eleitoral. Com essa definição e, depois, com a composição do futuro governo, isso será deixado de lado e o cenário internacional voltará a comandar o jogo”, afirma Vieira. “Esses são exemplos pesados que vão influenciar a bolsa no curto prazo e que devem impedir os investidores em aceitar maiores riscos. Quem quiser investir em bolsa, espere passar a eleição. Escolha ficar na segurança, e depois pensa se é o momento de buscar mercados mais arriscados.”