A bolsa de valores brasileira, a B3, passa longe do seu melhor momento. Após dois anos de glória com recordes no volume de abertura de capital, movimento impulsionado pelos juros baixos, agora a época é de escassez. A B3 chega à metade do ano sem nenhum IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) e com um saldo de 23 desistentes no ano.
Novas ofertas podem ser difíceis de acontecer em meio ao conturbado momento econômico, tanto doméstico quanto externo, e os resultados das estreantes dos últimos seis anos não são nada animadores. Das 86 empresas que realizaram IPO na B3 desde 2017, apenas 18 delas registram retorno positivo acima do Ibovespa, e apenas 20 estão com a ação acima do nível do IPO, segundo levantamento realizado pela Guide Investimentos. Isso é menos da metade de todas as ofertas, ou seja, cerca de apenas 20% das empresas que abriram capital estão com bom desempenho na bolsa.
O cenário econômico não tem sido favorável ao mercado acionário. Com uma inflação global e em meio à elevação dos juros em diversos países, investidores estão buscando refúgio em ativos seguros, diminuindo as posições de suas carteiras em renda variável para ampliar na renda fixa, que voltaram a prometer altos retornos com pouco risco.
Apesar das condições macroeconômicas, o desempenho ruim também parece estar atrelado à enorme quantidade de ofertas, inclusive de empresas pouco estabelecidas que aproveitaram a efervescência do mercado acionário nos últimos anos. Segundo a Guide, em tempos de “bull market”, era normal ver um aumento no número de ofertas, pois a precificação é mais alta e aumenta o interesse das empresas em listar suas ações. “Entre tantas ofertas, como seria imaginável, a qualidade das empresas apresentou uma maior variação, com algumas que nem lucro haviam obtido à época, e em sua maioria a preços acima do que seria considerado posteriormente como justo pelo mercado, um exemplo do comportamento típico de momentos de euforia”, avalia.
Segundo a corretora, parece existir uma clara relação inversa entre a quantidade de ofertas e o desempenho delas no mercado. Em 2018, ano com o menor número de ofertas desde 2017, a performance foi positiva em 22,5% no preço consolidado das ações, acima do desempenho do Ibovespa. O ano de 2021, que registrou o maior número de ofertas, totalizando 42 IPOs, o desempenho foi negativo em 26,3% para as empresas.
As empresas que apresentaram boa evolução foram aquelas de setores pequenos ou novos na B3, que tem poucos concorrentes na bolsa, ou que apresentam uma vantagem competitiva setorial. Entram nessa lista a Vamos (locação de veículos pesados), Intelbras (itens de segurança e painéis solares) e Vittia (fertilizantes e insumos para o setor agrícola), por exemplo. Já as com as com pior desempenho são empresas populares do varejo.