Credibilidade e mudança de cenários: os motivos do racha no Copom
Ata divulgada nesta terça-feira esclarece decisão dividida do colegiado, que optou por reduzir a taxa para 10,5% ao ano

O Banco Central divulgou nesta terça-feira, 14, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, o Copom, que na semana passada reduziu o ritmo de cortes da taxa Selic para 0,25 ponto. O documento era muito aguardado já que houve uma decisão dividida sobre o tamanho da redução, opondo os indicados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os diretores remanescentes do colegiado. Apesar da divisão no voto, a ata mostra um comitê afinado quanto ao momento da política monetária, em que a conjuntura mais incerta tanto internamente quanto no exterior demanda uma política monetária mais contracionista, ou seja, um patamar de juros mais elevado para segurar a inflação.
O documento trouxe os motivos da decisão dividida, que gerou grande expectativa no mercado. Em dezembro, o presidente Lula poderá indicar os outros diretores ao Banco Central, inclusive o presidente. A sinalização da divisão preocupou os investidores devido um temor de um BC mais permissivo em relação à política monetária. Na ata da reunião, o motivo apontado pelos quatro diretores que preferiam uma redução de 0,5 ponto na Selic, como nas seis reuniões anteriores, foi em função de um possível risco de credibilidade ao alterar a indicação que havia sido dada na reunião anterior, em março.
“Como em debates ocorridos em outras reuniões, tais membros discutiram se o cenário prospectivo divergiu significativamente do que era esperado a ponto de valer o custo reputacional de não seguir o guidance, o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do Comitê”, explicou a ata. “Para tais membros, julgou-se apropriado, tal como em reuniões anteriores, seguir o guidance, mas reafirmando o firme compromisso com a meta e com a requerida taxa de juros terminal para que o objetivo precípuo do Comitê de convergência da inflação para a meta seja alcançado.
Os indicados de Lula também consideraram que as projeções de inflação eram mais afetadas pela taxa de juros no fim do ciclo de queda do que pelo ritmo a ser adotado na reunião da semana passada. Assim, a manutenção do corte de 0,50pp ainda manteria a política monetária “suficientemente contracionista”. Os diretores discidentes indicaram, no entanto, que as reuniões seguintes, a partir de junho, demandariam mais flexibilidade — ou seja, cortes menores. Isso, “permitiria, à luz de novo conjunto de informação, calibrar a trajetória do instrumento de política monetária da forma apropriada”.
Além da divisão dos votos, inédita desde agosto, o BC não sinalizou o rumo da taxa de juros para a próxima reunião.
Cenário
No comunicado, o Copom trouxe os motivos que baseiam a política monetária. Segundo o documento, o cenário externo mostra-se “mais adverso” atualmente devido à incerteza em relação à condução dos juros nos Estados Unidos e a velocidade do processo de desinflação global. Também avaliou que a economia doméstica tem apresentado maior dinamismo do que o esperado, o que pode adicionar uma pressão na inflação.
O colegiado também alertou para o aumento do risco fiscal, após as mudanças anunciadas pelo governo em abril, com a alteração da meta fiscal a partir de 2025. Para isso, o Copom deixou um alerta, afirmando que é importante manter a credibilidade para evitar impactos sobre a inflação e a política monetária.
Em relação às projeções oficiais do BC para o IPCA houve aumento ante março, de 3,5% para 3,8% em 2024 e de 3,2% para 3,3% em 2025, ano em que o BC está focado para colocar a inflação na meta. O alvo a ser perseguido é de 3%, com margem de tolerância até 4,5% para evitar um estouro.