CVM analisa acordo em que Qualicorp dá R$ 150 milhões a fundador
Investidores estudam formas de conseguirem reparação na CVM e na Justiça
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já está analisando o acordo firmado entre a Qualicorp e seu fundador e presidente, José Seripieri Filho, conhecido como Júnior. Na segunda-feira 1º a empresa anunciou que vai pagar 150 milhões de reais a seu fundador para que ele não vendesse ações da companhia, nem desenvolvesse negócios concorrentes pelos próximos seis anos – prazo que pode ser estendido para oito anos.
A CVM, comissão responsável por fiscalizar o mercado financeiro, afirma que não comenta investigações em andamento para não atrapalhar os trabalhos de suas equipes. “O assunto objeto […] está sendo analisado”, disse em nota.
O anúncio feito pela Qualicorp na manhã desta segunda 2 fez derreterem as ações da companhia na bolsa de valores de São Paulo, a B3. Os papéis caíram 29,37% durante o pregão, cotados a 11,57 reais. A empresa, que é considerada a maior administradora de planos de saúde coletivos do Brasil, listou como a terceira mais negociada da bolsa, o que é mais uma evidência da fuga dos investidores.
Na manhã desta terça-feira 2 as ações entraram em leilão na abertura do mercado. Esse procedimento é realizado pela bolsa para evitar uma volatilidade excessiva, que pode prejudicar os investidores. Quando saiu do leilão, a ação indicava uma alta de 3,5%, cotada a 12,03 reais, às 10h25. A cotação atual reflete uma perda de valor de mercado de 1,2 bilhão.
O acordo entre Júnior e Qualicorp revoltou parte do mercado. Mauro Cunha, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), afirmou que o caso pode ser “o maior escândalo societário do mercado brasileiro desde o caso Oi”. “É preciso uma ação incisiva da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Ministério Público e dos acionistas”, disse Cunha.
A maior reclamação dos acionistas é que a decisão não passou por assembleia. Os minoritários afirmam que apenas souberam do acordo após a publicação de fatos relevantes.
Segundo o jornal Valor Econômico, investidores passaram a tarde de segunda avaliando formas de levar a discussão à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à Justiça. Uma das maiores gestores de investimentos do país, a XP, que possui cerca de 5% do capital social da Qualicorp, afirmou aos cotistas que buscará reparos na Justiça.
O acordo
Em teleconferência, a diretora Financeira e de Relações com Investidores da Qualicorp, Grace Cury Tourinho, disse ainda na segunda, que Júnior “pode sair a qualquer momento”, ao longo dos seis anos do contrato. “Mas que se ele quiser sair, vai ter que respeitar na íntegra o acordo e devolver valor proporcional”.
A executiva afirmou que o valor pago ao executivo, de 150 milhões, equivale a uma remuneração média calculada por três consultorias – McKinsey, Spencer Stuart e Mercer. “O valor equivale à remuneração de executivos com a mesma posição”, disse. A companhia justificou o acordo dizendo a decisão visa um alinhamento estratégico da empresa médio prazo.
Em nota, a McKinsey desmente a informação da Qualicorp e informa que 1não atua em qualquer definição referente a mérito ou valor de acordos de não competição com executivos’.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a companhia reiterou que o contrato não pode ser rescindido antes do final do prazo de 6 anos, mesmo que José Seripieri Filho deixe de atuar como administrador.
“Apenas em caso de tomada hostil de controle ou da destituiç��o da maioria do Conselho antes do final do respectivo mandato, Seripieri Filho poderia rescindir o contrato antes do final do prazo desde que reembolse à companhia o valor da indenização na proporção do prazo ainda não cumprido”, disse em nota. “Além disso, a Qualicorp esclarece que a referida decisão, visando um alinhamento estratégico de médio prazo, foi tomada por unanimidade por seu Conselho de Administração, sem a participação do sr. Seripieri e respeitados todos os ritos legais.”